Casa da Serra, da Trofa. (Ascendência, Descendência e Colaterais)
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Fontes
Inquirição de Genere de 15 Out. 1709, de seu neto Bras.

Maria José Padrão.

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João Carneiro Tavares
* Porto, Porto, São Nicolau (Rua Nova da Cidade do Porto) + Porto, Porto, Rua Nova, São Nicolau 08.07.1648
Pais
Filhos
Notas Biográficas
  • Cidadão do Porto.
  • Vivia às leis da Nobreza.
Notas
  • Referências foram por aqui feitas a essa artéria portuense que é hoje a Rua do Infante D. Henrique, mandada fazer no fim do século XIV e demoradamente erguida, digamos assim, ao longo da centúria de quatrocentos. Uma rua que, pela largueza invulgar – não apenas no Porto mas em todo o contexto tardomedieval europeu –, foi ao longo de séculos centro cívico da cidade, palco de vaidades ou até terreiro para touradas, actividade que veio a ser repudiada pelo costume portuense. Uma rua que começou por ser Rua Nova, roubando o nome a outra que passou a chamar-se Rua Escura, e que teve muitos outros nomes, de “Rua Fermosa”, designação atribuída pelo próprio D. João I, que a mandou construir e que surge em alguma documentação, a Rua Nova de S. Nicolau, Nova dos Ingleses ou apenas dos Ingleses, por estes ali terem instalado a feitoria, onde hoje se mantém.
  • Em História, uma simples rua pode dar pano para mangas. Ainda para mais quando toca à historiografia medievalista portuguesa, que, pela dolorosa escassez de fontes documentais, em comparação com outros países cujo passado é muito mais fácil de conhecer, obriga a que cada tema seja mesmo espremido até ao tutano. E a Rua Nova presta-se a isso, pois foi importante em muitos aspectos, da articulação urbanística, que era coisa pouco cuidada no tradicional emaranhado de ruelas, à ligação que tem a uma mudança importantíssima para a cidade do Porto, a saída da alçada dos bispos, senhores do burgo e do seu termo desde antes da nacionalidade, para a coroa.
  • De todos estes assuntos, abordados por Luís Carlos Amaral e Luís Miguel Duarte, docentes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, no estudo “Os Homens que Pagaram a Rua Nova” (1985), centrar-nos-emos agora nesse importante papel da rua, o de ter permitido à coroa assumir jurisdição da cidade e do couto do Porto. Não havia nacionalizações, explique-se: a mudança foi negociada em 1405, em Montemor-o-Novo, entre o monarca e o bispo do Porto de então, D. Gil Alma. Várias fontes mostram essa ligação da Rua Nova ao contrato entre D. João I e o prelado, vejamos o que escreveu o padre Agostinho Rebelo da Costa na famosa “Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto” (1788): “… o bispo e o cabido renunciariam para sempre toda a jurisdição, direitos e senhorio da cidade, obrigando-se ele rei e seus sucessores a dar-lhes anualmente três mil libras de moeda antiga, cuja quantia lhes consignou logo nas pensões dos tabeliães e nos foros das casas que tinha na cidade; e, no caso que não chegasse esta consignação a fazer a dita quantia, aplicava, para a sua total solução, as rendas que recebia da alfândega, e assim também os foros das casas da sua Rua Formosa”.
  • A ligação da cidade a D. João I foi, como se sabe, muito estreita. O Porto estivera desde o início da crise dinástica ao lado do mestre de Avis, recebendo-o entusiasticamente a 25 de Abril de 1385. Na cidade se casou o rei com D. Filipa de Lencastre, dois anos mais tarde. No Porto nasceu, a 4 de Março de 1394, o infante D. Henrique, embora se entenda hoje ­­como improvável que o “Navegador” tenha vindo a este mundo na casa que por tradição se diz “do Infante”, onde hoje funciona o Arquivo Histórico da cidade e que era a alfândega régia. Daí que tenha havido o empenho pessoal do rei em dotar de tal eixo regularizador um burgo que florescia no trato com o exterior, onde cada vez mais estrangeiros pernoitavam, onde a burguesia mercantil ganhava crescente prestígio.
  • Inovadora em vários aspectos, referimos a muito invulgar largura, podemos vincar também a circunstância de ser rectilínea e acrescentamos, ainda, algo absolutamente invulgar para o tempo: todas as casas da rua teriam de obedecer a uma traça previamente estabelecida (muitos acrescentos e redefinições foram feitos ao longo dos tempos). Inseria-se numa política de incremento do património régio dentro das cidades portuguesas, mas não era a coroa que haveria de a pagar. Quem a pagou? As gentes do Porto e do termo do Porto, ou seja, muita gente de uma circunscrição alargada que, provavelmente, jamais terá posto os pés na dita rua. Como? Com impostos ad-hoc. Com fintas, assim se chamava à coisa, régias ou instituídas pela vereação. Luís Miguel Duarte e Luís Carlos Amaral estudaram uma dessas fintas, instituída em 1438. O pagamento ou não pagamento dessas finas é coisa complexa, que aqui não cabe. Importa apenas que, bem ou mal, foram os cidadãos (o termo não é adequado para a época, mas permita-se aqui esta liberdade) quem pagou a rua, alargando o património de um rei que não abriu os cordões à bolsa e, em parte, contribuindo para retirar das mão dos bispo o senhorio da cidade, medida pela qual os grandes mercadores, sedentos de alguma modernidade administrativa, ansiavam.
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