Casa da Serra, da Trofa. (Ascendência, Descendência e Colaterais)
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Fontes
Arvore Genealogica da Familia Serra, Pags 6 e 7.

Misérias e Grandezas das Terras de Bougado - I Parte. Págs. 103 a 106. Livraria SóLivros de Portugal, 1981.

Testamento

Filomena Padrão

Assento de nascimento
Antonio Dias Moreira Padrão
* Porto, Trofa, Santiago de Bougado 17.09.1856 + Porto, Trofa, Santiago de Bougado 13.01.1940
Pais
Notas Biográficas
  • Era o filho mais velho de uma grande família – eram doze irmãos – e talvez por ser o mais velho, foi-lhe administrada uma educação diferente dos outros irmãos, tendo sido desde logo encarreirado para o seminário.
  • Cabe aqui uma referência a uma tradição que se manteve, nestas terras, até ao principio deste século, em que o filho mais velho de algumas das famílias mais importantes da região, ser orientado para sacerdote da Igreja Católica. E foi assim, também, na casa da Matilde. O filho mais velho foi padre mantendo e continuando uma tradição importante das famílias a darem o seu primeiro filho ao serviço da Igreja.
  • Aquele que viria a ser conhecido como Padre Padrão, durante a sua vida de seminarista, dedicou, os reduzidos tempos livres que possuía, ao estudo da musica e ao aperfeiçoamento no manuseio das teclas de órgãos e pianos. Sublimava assim a sua energia baronil no desenvolvimento duma manifestação artística que o haveria de notabilizar vida fora.
  • Acabado o curso de teologia foi paroquiar Pedroso, freguesia de Vila Nova de Gaia, onde permaneceu muito perto de vinte anos. Aí começou a desenvolver a virtude que o haveria de acompanhar até à morte: a Caridade. Alguns foram os seminaristas de Pedroso cujas dificuldades económicas para frequentarem o seminário eram notórias e o padre Padrão foi buscar um pouco das suas magras economias e distribuiu-as por aqueles que, a seu ver, mereciam a sua ajuda material.
  • Nesse tempo dedicava a sua vida aos paroquianos e à música. Daí que tirasse tempo à sua paróquia para ainda reger a cadeira de música num dos seminários da diocese. E era com o dinheiro que obtinha nessa actividade extra que ele ajudava à formação da juventude de Pedroso.
  • Uma alma grande que se afligia muito com as carências dos outros. Os doentes necessitados da sua paróquia viam-no com duplo agrado penetrar no quarto porque sabiam que na sua despedida, o padre Padrão deixava migalhas das suas migalhas debaixo da travesseira comprida da cama. Era assim uma pessoa virada para o desprendimento material e a necessidade dos outros assim o motivava.
  • Pedroso e as suas gentes viram-no despedir-se no ano de 1902. As necessidades espirituais da diocese enviaram-no para Felgueiras. Aí foi paroquiar a freguesia de São Vicente de Sousa e a sua anexa Idães. Outras gentes, novos costumes foi encontrar. Era preciso saber encaminhar aqueles dois rebanhos para o redil de Deus. Por isso o mandaram para tais terras.
  • Obediente às ordens da hierarquia partiu rumo ao seu novo povoado. Fê-lo com o desgosto enorme de abandonar o ensino da música. E não era a mira das terras agrícolas de Felgueiras que o seduziam, porque os bens materiais nunca foram o seu objectivo. Mesmo assim as novas freguesias cedo começaram a conhecer a sua acção e o seu exemplo de caridade constante.
  • Os pobres tinham-no como um pai e aqui, de novo, a juventude mais capaz para os estudos começou a ser amparada monetariamente. Nestas terras já não foram só os seminaristas a sentiram a acção material deste bondoso padre. Também algum outro jovem que sobressaísse na inteligência logo o padre Padrão, no caso de se tratar de uma família necessitada, ia junto dos pais e incentivava-os a deixarem o filho estudar, comprometendo-se a ajudar monetariamente com uma certa mensalidade, conforme os casos. Era assim uma espécie de pai para os pobres daquelas terras. Exemplo vivo dum Cristo que se deixou pregar numa cruz pelos outros, numa doação máxima de caridade pela Humanidade.
  • Fez muitos amigos nas freguesias de Sousa e Idães nas três dezenas de anos que as paroquiou. E não foram só as manifestações de caridade que sempre o acompanharam, mas também o luzimento que dava às cerimónias religiosas, pondo praticamente toda a gente das freguesias a participar nos actos de culto, fazendo parte de um grupo coral imenso que enchia de riqueza espiritual todas as cerimónias.
  • Por volta dos setenta anos quis voltar à sua terra natal onde desejava passar os últimos dias da sua existência. Não lho permitiram. Movimentaram-se as populações das duas freguesias "obrigando-o" a permanecer ali, acompanhando-os enquanto pudesse. E naquele momento ele renunciou à saída tendo-lhe os paroquianos oferecido, como prova de gratidão, um cálice de prata dourada que o padre Padrão viria a oferecer, por morte, à igreja paroquial de Santiago de Bougado.
  • A idade começava a avançar e em 1932, pela calada da noite, enquanto a população dormia, num adeus impessoal, regressava à velha casa da Matilde onde havia nascido, havia então 76 anos. "Fugiu" daquela gente que já o considerava seu.
  • Padre Padrão. Mesmo com 76 anos de vida ainda não era tempo de paragem. Por isso na sua terra natal deitou mãos ao trabalho e tomou conta das capelinhas de Bairros e de Nossa Senhora das Dores. Em cada domingo ia a pé da Lagoa a Bairros (os dois Soutos, ainda, existentes na freguesia de Santiago de Bougado) celebrar a missa. Celebrada esta tinha um automóvel de aluguer à espera a quem pagava mais do que a esmola que recebera da missa, para o levar até à Capela de Nossa Senhora das Dores onde a pontualidade era cumprida exemplarmente. No fim regressava a pé até à Lagoa. Então, pelo caminho, era quase certo que alguém lhe pedia o dinheiro da esmola da segunda missa e chegava a casa sem ele. E a reforma que quinhentos e poucos escudos que recebia mensalmente ainda acabava por ter de ajudar às despesas do táxi…
  • Nas missas dominicais fazia sempre a homilia doutrinal, mas sempre com controlo medido sobre os ponteiros do relógio, de modo a não cansar os ouvintes. Era conciso e persuasivo e ninguém bocejava ou adormecia durante os sete minutos em que falava. Não esquecia que a homilia é um monólogo que cansa facilmente.
  • Nasceu numa casa rica e acabou pobre, mas sempre com o semblante alegre, espelho duma alma cheia de generosidade e boa vontade. Repartiu os tempos dos últimos oito anos de vida ajudando as paroquias dos Bougados, sempre com interesse de encaminhar as pessoas no sentido do bem.
  • Dedicou também algum tempo, dos últimos seis anos, à juventude, nomeadamente como adjunto do assistente dos Escuteiros de São Martinho de Bougado. Apesar da idade não deixava de marcar presença nos acampamentos onde tinha sempre uma história exemplar que contava para instigar à boa acção. Os Escuteiros ouviam-no como a um irmão, porque o padre Padrão usava uma linguagem juvenil como se fosse de rapaz para rapaz. E para a juventude já tinha um conceito moderno de educação baseado no principio, "máxima liberdade com a máxima responsabilidade".
  • Poderemos chamar-lhe o padre da caridade. Nos oito anos que viveu em Santiago de Bougado, pois morreu santamente, tal como vivera em 13 de Janeiro de 1940, ainda teve tempo para comparticipar, com os dinheiros da sua reforma, na educação escolar de elementos da juventude daquela terra. Foi um exemplo!
  • Com oitenta e três anos, ao fazer o seu testamento, provou que, se sempre vivera ajudando os pobres, partiria levando-os na sua memória. Era essa a sua vontade e por isso deixou no testamento:
  • -"Quero que aos pobres seja dado o seguinte: à corporação de culto de Idães, Felgueiras, quatrocentos escudos para distribuir por pobres ou capitalizar, como entenda melhor; à corporação do culto de Sousa, do mesmo concelho, duzentos escudos em iguais condições; à corporação do culto de Pedroso, concelho de Gaia, quatrocentos escudos; e finalmente à corporação do culto de Santiago de Bougado, duzentos escudos, também em iguais condições".
Notas
  • Deixa a casa de sua mãe, que havia herdado, ao sobrinho António Dias da Mota Padrão
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