Casa da Serra, da Trofa. (Ascendência, Descendência e Colaterais)
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Fontes
Árvore Genealogica da Familia Serra, Página 2

Misérias e Grandezas das Terras de Bougado - I Parte. PágS. 107 a 110. Livraria SóLivros de Portugal, 1981.
Joaquim da Costa Pereira Serra
* Porto, Trofa, São Martinho de Bougado 14.03.1897 + Porto, Trofa, São Martinho de Bougado 24.01.1957
Pais
Filhos
Notas Biográficas
  • Em São Martinho de Bougado, a partir dos vinte anos do século passado, começou a arrancada do desenvolvimento que ainda não parou e deseja-se que não pare, em todo aquele que é, actualmente, designado concelho da Trofa.
  • Naquela freguesia do concelho da Trofa, àquela época, as pessoas vieram de fora e era preciso dar-lhes um tecto. As casas foram aparecendo à custa da iniciativa privada, de resto única entidade a quem, até 1999, se ficou a dever p desenvolvimento das freguesias de Santiago e São Martinho de Bougado. Houve bougadenses que se notabilizaram mais do que outros na resolução do problema da habitação. No entanto um existiu que sobressaiu notoriamente à frente de todos. Estamos a recordar Joaquim da Costa Pereira Serra, pelo contributo que deu para a criação de muitos lares que foram abrigo da célula da sociedade que é a familia.
  • Joaquim Serra. O homem que fez crescer a sua terra proporcionando abrigo a muita gente. Foram dezenas e dezenas de casas que ele mandou edificar, alterando decididamente o aspecto físico da terra e enriquecendo humanamente a região. Foi ele o elemento que lançou o arranque da construção civil em São Martinho de Bougado. Era a ele que as pessoas recorriam na esperança de encontrarem uma casa para dar abrigo a mais uma família.
  • A execução do bairro da Capela junto à linha do caminho-de-ferro, no topo sul do Parque de Nossa Senhora das Dores, perpetua a memória dum homem que raro dia da sua vida activa não era importunado com pedidos de mais casas de habitação. E em cada domingo, no largo Carioca, no fim da missa primeira, ele ia pagando aos trabalhadores – artistas como então se dizia – o tempo de trabalho da semana anterior. Outros trabalhadores aproveitavam também essa oportunidade para pedirem trabalho.
  • O bairro Joaquim Serra como ainda hoje se designa, embora a rua tenha outro nome, fica junto à frente norte da fábrica de Máquinas Pinheiro e as pessoas achavam por bem recordar assim a memória do benfeitor da terra que, embora cobrasse uma certa renda aos inquilinos, muitas vezes estes se "esqueceram" de a pagar e ele de a receber.
  • Nunca passou recibos e o inquilino é que tinha normalmente de ter o cuidado de procurar o senhorio para pagar a renda.
  • Era um homem virado para a solução rápida dos problemas. Por isso era frequente esquecer-se de que para fazer uma casa era necessária uma licença e um projecto. Quando se lembrava disso vezes houve em que a casa já se encontrava habitada.
  • Joaquim Serra. O homem que se levantava diariamente às seis horas da manha, acicatando o espírito com uma chávena de café bem quente. Era esse o seu pequeno-almoço que o tornava ladino para as lides diárias que esperavam a sua supervisão.
  • Era industrial. Criou uma fábrica de tecidos onde hoje é o celeiro de trigo. Aí empregou dezenas de trabalhadores. Daqui se infere que ia resolvendo o problema da habitação e ao mesmo tempo criando postos de trabalho, quer na construção civil quer na indústria. Foi assim que a Trofa cresceu.
  • No tempo da caça ia dar uma volta com os cães, calcorreando montes e vales e fazendo gosto ao dedo, premindo o gatilho em ocasiões favoráveis. Mas entre o abater uma ou outra peça de caça ia pensando que talvez…Se abrisse uma rua naquele ou noutro prédio, se poderiam construir mais casas que satisfariam as pretensões de cicrano e beltrano.
  • Joaquim Serra. Quando a noite chegava ia meditando que talvez aquela renda que negociou e estabeleceu era elevada, apesar de findos alguns anos a casa ficar propriedade do inquilino. E houve casos em que ele baixou o período durante o qual decorria a amortização. Era uma espécie de compra da casa a prestações mensais, numa atitude perfeitamente revolucionária que só cabia na cabeça de um bougadense corajoso cuja generosidade o levou a acreditar em toda a gente, reservando sempre um cantinho na sua alma para desculpar aqueles que faltavam aos compromissos estabelecidos.
  • Da sala de jantar observava os vinhedos e ia comentando em surdina:
  • - "As ramadas estão cheias, mas bem preciso é. Só para os pobres, na consoada, vão duas pipas."
  • Esmoler que se condoía com a necessidade alheia socorrendo sempre as carências dos vizinhos e as necessidades da região, já que não podia arranjar trabalho para toda a gente.
  • Quantos comerciantes e industriais recorreram a casa de Joaquim Serra para que ele ficasse como fiador de letras que se venciam e satisfação de outras necessidades financeiras. A quantos valeu em horas bem aflitas!...E quantos não satisfizeram os seus compromissos e foi ele, fiador, quem os teve de solver! A quantas pessoas que mal conhecia – ou nem conhecia? – emprestou, este homem, dinheiro sem levar um tostão de juro! Os testemunhos são imensos.
  • Para além dos bairros já citados outras casas mandou construir mantendo sempre a mesma linha simples de construção. Os arrebiques não tinham lugar em época de grandes carências em que era necessário fazer muito, depressa e barato. E entre dar dois alinhamentos aos artistas fazia um cigarro, metia-o na fumadeira, aspirando duas fumaças na esperança de alargar as vistas para o futuro.
  • Joaquim Serra. O seu automóvel não sabia andar depressa. O tempo era – e ainda é! – de graça. Lentamente chegava às obras e aos trabalhos do campo e no carro levava sempre um garrafão de vinho para animar o espírito de quem trabalhava. O vinho da terra chegava para todos. Gostava de ver toda a gente alegre como ele gostava de se sentir. E até por isso frequentava as romarias da região onde a alegria de então era interpretada pelas pessoas e não necessitavam de enfeites com música gravada e sonorizada. Pertencia a uma realidade diferente onde tudo era mais real – até a alegria.
  • Ficou viúvo aos trinta e nove anos. Um desgosto enorme como é natural. Seis filhos para criar e educar. Responsabilidade que não alijou. Por isso passou a preocupar-se com os pormenores educacionais dos filhos tendo o cuidado de, todos os fins-de-semana, os ir buscar ao colégio, no tempo de aulas, e ir passear com eles. As obrigações paternais a misturarem-se com as maternais. Afinal, funções exemplares dum verdadeiro chefe de família!
  • Este homem de corpo inteiro que caldeava as missões de supervisão industrial da sua fábrica com a agrícola e os cuidados dos filhos, mais as casas em construção, ainda tirava algum tempo nas longas noites de inverno para jogar uma partida de cartas com os amigos. Nas cartas repousava o espírito, esquecendo as atribulações de mais um dia intenso de trabalho.
  • Se marcava os seus compromissos para determinada hora era rigorosamente pontual donde se deduz que era um homem perfeitamente organizado. Apesar disso sempre que o chamassem na hora das refeições, levantava-se da mesa e atendia as pessoas. A sensatez que possuía levava-o a pensar que <>.
  • Este homem morreu antes de ter acabado, em 24 de Janeiro de 1957, com apenas 60 anos de vida e numa altura em que a Trofa ainda muito esperava dele. Partiu, acabando a Trofa por lhe prestar homenagem póstuma, atribuindo o seu nome a uma rua fronteira à casa onde morava em Finzes. Foi acto perfeitamente justo, justiça essa reforçada até pela dádiva do terreno para abertura de tal via.
  • Fica, aqui, o reconhecimento à memória de Joaquim da Costa Pereira Serra, pela obra que criou na construção civil, promovendo o desenvolvimento habitacional que foi a garantia do arranque populacional do actual concelho da Trofa. Nesse campo deu um exemplo, mostrando o caminho que era necessário seguir em direcção à grandeza ambicionada para a região da Trofa. Outros o seguiram, mas o seu exemplo está na vanguarda.
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