Casa da Serra, da Trofa. (Ascendência, Descendência e Colaterais)
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Fontes
Árvore Genealogica da Família Serra, pág. 2.

Trofa - S. Martinho de Bougado, Esboço de uma Monografia. Pags 150 a 155. Editora Sólivros de Portugal/1981.

Misérias e Grandezas das Terras de Bougado - I Parte. Pág. 91 Livraria SóLivros de Portugal, 1981.
Joaquim Luís do Couto Reis
* Porto, Trofa, São Martinho de Bougado 21.11.1840 + Porto, Trofa, São Martinho de Bougado 17.03.1899
Pais
Notas Biográficas
  • Em meados de 1883 tomou posse de pároco da freguesia de São Martinho de Bougado, actual concelho da Trofa, o Reverendo Joaquim Luís do Couto Reis. Ordenado em 19 de Setembro de 1863, paroquiara as freguesias de Alvarelhos (igualmente, actual concelho da Trofa) e de São Pedro de Fins (Maia) antes de suceder ao Abade Carneiro Maia na paroquialidade da sua terra natal.
  • Embora militando no partido progressista, do qual era, nesta freguesia, uma das figuras cimeiras, presidia, por dever do cargo, e de harmonia com as disposições do novo Código Administrativo, à Junta da Paróquia, saída dos “regeneradores”, que iniciou a construção do cemitério, cuja primeira localização os “progressistas” vivamente combatiam. Sustentou, por isso, a luta aberta com os seus companheiros da Junta, entre os quais os Reverendos José António da Costa e Lino da Costa Ferreira.
  • Mas não foi só a “questão do cemitério” – tão demorada que o Abade Couto Reis não chegou a ver concluída – que ensombrou e dificultou a sua tarefa de pároco. Já a vacatura da paróquia – criada pela morte do Abade Carneiro Maia – pusera, frente a frente, as duas facções políticas da freguesia. A dos “regeneradores”, apoiando o seu correligionário, Padre José da Esprela, que vinha paroquiando na situação de “encomendado”. A dos “progressistas”, pugnando pela nomeação do também seu correligionário Padre Couto Reis. O problema do cemitério estava latente. Não admira, por isso, que ambos os partidos locais lutassem, afincadamente, para conseguirem ter, em cargo, tão preponderante, pessoa de sua confiança. Ano e meio – Fevereiro de 1882 a meados de 1883 – levou o Paço a decidir-se. Por fim, surge a nomeação do Abade Couto Reis.
  • Compreende-se agora a causa das desinteligências que dentro em pouco iriam surgir entre o novo pároco e a “confraria do Senhor”, à frente da qual se encontrava um dos chefes da facção regeneradora. António da Costa Ferreira (pai). No ano seguinte estalaria mesmo sério conflito entre as duas entidades.
  • Não conhecemos os fundamentos da queixa apresentada ao Prelado que era então o Cardeal-Bispo, D. Américo, contra o Reverendo Pároco. Mas na “contra-queixa” remetida ao Paço, algum tempo depois, com cento e duas assinaturas, insinuavam os signatários que tudo se resumia a saber-se quem dava ordens na igreja.
  • “V.ª Emm.cia Rev.ma sabe – escreviam eles – pelo muito conhecimento que tem, que á (há) confrarias de certos endevidos que julgam ter d’entro da Igreja mais prerrogativas do que o Parocho da freguesia, e n’este cazo está a actual confraria do S. Sacramento…”
  • Mas, pelos vistos, tal complexo de mando – se é que o havia – perdera ambiente com a nomeação do Abade Couto Reis, segundo o mesmo documento, “porque o Revd.º Parocho não lhes consente que d’entro da Igreja Parochial mandem mais do que elle conforme tinhão de custume anteriormente à sua nomiação.”
  • Em clima tal tenso, e com o veneno da política a acicatar os ânimos, não era difícil prever iminente “borrasca”. E esta surgiu quando o pároco “não consentio à meza da Confraria do S. Sacramento…que um individo de sertos custumes tocasse o órgão da Egreja na ocazião das missas dos terseiros domingos”.
  • Evidentemente que a mesa da Confraria tomando tal ordem – que não sabemos se era ou não legítima – por uma provocação, deliberou, logo no dia seguinte, não cumprir aquele legado, suspendendo a celebração das referidas missas solenes. Seria uma bomba na freguesia!
  • Mas qual? Apareceu logo “um devoto” – José da Costa Ferreira e Sousa – a requerer ao Prelado autorização para que, à sua custa – já que a Confraria se negava a cumprir as suas obrigações – o Rev. Pároco pudesse continuar a celebrar, nos domingos próprios, aquelas missas solenes.
  • Deferido o pedido pelo Cardeal-Bispo, D. Américo, riu-se o Abade da “perrice” dos adversários. E estes, vendo logrado o seu intento – e embora não conformados e a congeminar novo “golpe” – não tiveram outro remédio senão requererem, por sua vez, ao Paço para que o Rev. Pároco “continuasse a selebrar as Missas dos terseiros, conforme o legado, até terminar o anno económico, em lugar de selebrar as do devoto José da Costa Ferreira e Souza”.
  • Tudo voltou à mesma, pois. Mas não por muito tempo. Ao golpe “progressista” do devoto, seguir-se-ia o golpe “regenerador”, do capelão. Na verdade, terminado que foi o ano económico, a mesa da Confraria do Santíssimo Sacramento nomeava um capelão que seria, para começar, o Reverendo José António da Costa (Padre José da Esprela), ao qual, dali em diante, pertenceria a celebração de todas as missas que lhe dissessem respeito. Golpe de mestre, sem dúvida!
  • Mas o Abade Couto Reis saíra ao pai, que nos problemas da ordenação do outro filho – um irmão do Abade, dez anos mais novo que ele – mostrara já ser um homem dos de “antes quebrar que torcer”. De quebrar, sim. E tal pai, tal filho. Poucos meses depois, estava a Confraria sem capelão, ou pelo menos sem ter quem lhe dissesse as missas, por o Reverendo José António da Costa – sem que ninguém o esperasse – ter sido nomeado Pároco Encomendado da vizinha freguesia de Santiago de Bougado.
  • Dali em diante foi a agudização do conflito, a queixa de uns tantos paroquianos remetida ao Senhor Cardeal-Bispo contra o Abade, e a contra-queixa de muitos mais – cento e dois – em que se faziam os mais rasgados elogios ao Reverendo Pároco que “…Se todas as freguezias do vasto Bispado que tam dignamente se acha confiado a V.ª Emm.cia Reved.ma tivessem parochos de sã moral, virtude, caridade e pontualidade no cumprimento dos seus deveres, como o que actualmente os signatários tem a fortuna de possuírem, poderia sem lizonja V.ª Emm.cia Reved.ma considerar-se o Prelado mais feliz de toda a orbe católica”. Não se podia dizer mais em tão pouco!...
  • Organizado o processo, lá foram depor as testemunhas de um e outro lado. Certamente, e como é costume nestes casos, um “lavar de roupa suja”…em que pouco se podia confiar. Pelo menos, diziam os do lado do Abade que as testemunhas de acusação eram os próprios queixosos “ e ainda á outros que foram rogados e instados para este fim, chigando uma d’ellas a dizer que munto lhe custara a decorar o que lhe a vião insinado e a outra foi-lhe oferecida certa quantia, a qual regeitou…”.
  • Nada consta acerca da maneira como o conflito terminou, mas tudo leva a crer que o processo tivesse sido arquivado. E, serenados os ânimos e mudados os mesários, no final do mandato, é possível que, por algum tempo, a paz tivesse regressado à freguesia.
  • Mas só por algum tempo…Poucos anos depois já o Abade Couto Reis estava envolvido em novo conflito, a nível da Junta da Paróquia, devido à escolha do terreno para a construção de um cemitério.
  • O Abade Couto Reis teve com coadjutor o seu colega de sacerdócio, mas adversário na política, Padre Lino da Costa Ferreira que, na ausência daquele, algumas vezes exerceu o cargo de Pároco Encomendado.
  • Por alturas de 1897, quando a questão do cemitério seguia os seus trâmites, com golpes e contra-golpes de ambas as facções políticas, tanto o Pároco como o seu coadjutor, apaixonadamente envolvidos no conflito, embora em campos opostos, sentindo-se “doentes” requereram licença dos cargos que exerciam e remeteram-se a um merecido descanso. Foi nomeado então pároco encomendado o Reverendo Joaquim Ferreira Neves Júnior que no ano seguinte tinha como coadjutor o Padre Manuel Pires Lages.
  • Em 17 de Março de 1899, o Abade Couto Reis adoecia, subitamente, quando celebrava missa. Transportado para a residência paroquial, onde vivia, aí faleceu horas depois, sendo sepultado no adro da igreja.
  • Antes, porém, do enterramento, e porque tivessem começado a circular rumores acerca da causa da morte – não faltava a má-língua a insinuar que o vinho das galhetas estava envenenado! – as autoridades mandaram proceder a autópsia, que se efectuou ao ar livre, por detrás da própria igreja. E soube-se, então, que o envenenado boato não tivera menor fundamento.
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