Casa da Serra, da Trofa. (Ascendência, Descendência e Colaterais)
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Fontes
Árvore Genealogica da Família Serra, pág. 2.

Misérias e Grandezas das Terras de Bougado - I Parte. Pág. 91 a 93. Livraria SóLivros de Portugal, 1981.
Bernardino de Azevedo Couto
* Porto, Trofa, São Martinho de Bougado 14.08.1850 + 06.10.1917
Pais
Filhos
Notas Biográficas
  • Os pais do Bernardino educaram o filho de acordo com a austeridade de costumes da época, no meio agrícola, apesar da abastada casa de lavoura que possuíam. E dentro desse espírito orientaram-no para vir a ser agricultor e um dos herdeiros daquela grande casa.
  • O Bernardino foi crescendo, passou a infância e a juventude e começou a impressionar-se vivamente com o ar limpo e asseado que o seu irmão mais velho, então Padre Joaquim Luís do Couto Reis, quando visitava a casa paterna, se apresentava. Naturalmente que as mãos calejadas do Bernardino, a camisa empoeirada e suada, quantas vezes salpicadas de lama, e o calçado cheio de terra, contrastavam com a apresentação digna dum pároco de Alvarelhos, como era então o Padre Joaquim Luís do Couto Reis. Daí que na mente do Bernardino começasse a aparecer o desejo de abandonar a vida do campo e ir futuramente emparceirar com o irmão.
  • Já tinha mais de vinte anos quando pôs o problema ao pai (era preciso alguém que custeasse as despesas dos estudos). O senhor Azevedo, conhecedor da molenguice do filho, avisou-o que os seus desejos seriam concretizados, mas teriam de ser mesmo. Não era hoje querer ser padre para daí a dois dias desejar abandonar os estudos.
  • Partiu o Bernardino para o seminário do Porto. Porém cedo se vieram a concretizar os receios do pai porque o Prelado da diocese chamou o senhor Azevedo para lhe comunicar que o filho teria que abandonar os estudos. O senhor Azevedo aí não aceitou a imposição sentencial do Bispo e mandou o filho prosseguir os estudos em Lamego. Entretanto a via sacra do futuro padre Bernardino não terminaria em Lamego, pois passado um pouco de tempo mais já estava no Seminário de Braga, onde finalmente viria a receber o sacramento da Ordem. Bernardino Padre, finalmente, com mais de trinta anos de idade!
  • O Padre Bernardino foi pároco da freguesia de Parada, Vila do Conde, sua única paróquia.
  • Quando morreu o Cardeal Bispo da diocese do Porto, D. Américo – (tinha sido este prelado quem expulsara o Bernardino dos Seminários da sua diocese) –o Padre Bernardino abandonou a sua minúscula paróquia e veio instalar-se numa casa, pertença dos seus pais, na Lagoa, em Santiago de Bougado, actual concelho da Trofa. E só agora o podia fazer pois D. Américo tinha avisado o senhor Azevedo que não só deixava o seu filho Bernardino estudar na sua diocese como também, futuramente, se ele se ordenasse o não deixaria celebrar missa.
  • A partir da sua instalação em Bougado até à morte a participação na vida comunitária e religiosa passou a fazer-se coadjuvando os párocos de Santiago e de S. Martinho de Bougado, freguesias que, actualmente, integram a cidade da Trofa, embora sem responsabilidades de hierarquia.
  • O Padre Bernardino. Um Padre feito sem vocação. A ânsia de abandonar a vida no campo a caminho duma vida mais leve. Por isso os atropelos que a força do seu vigor foi capaz de provocar ante a fraqueza do seu espírito. E a vida de celibatário dentro das normas morais que a Igreja Católica aconselha é extremamente dura e exigente. Mas o Padre Bernardino não resistiu à fraqueza (ou à força?) da carne e em 1895 a senhora Carolina Dias da Costa, viúva e já mãe de três filhos, deu à luz uma filha como resultado dos amores ilícitos existentes entre ambos. Uma nódoa na vida dum homem e uma sombra para todo o sempre na vida dum eclesiástico!
  • A filha do Padre Bernardino foi baptizada com o nome de Blandina Dias do Couto, vindo a ficar órfã de mãe aos três anos de idade. Dos três aos sete anos esteve ao cuidado de uma irmã mais velha. A partir dos sete anos o Padre Bernardino assumiu integralmente a função de pai trazendo a filha para seu lado, educando-a e orientando a sua vida.
  • Quando a senhora D. Blandina casou em 1916, em boda paga pelo pai, Padre Bernardino, comentou para os amigos mais íntimos:
  • -"Agora estou pronto a dar contas a Deus. Cometi o mal, mas penso que o reparei. Deus é grande e a Sua misericórdia infinita".
  • Padre Bernardino, Abade de Parada. Foi convidado, como muitos outros, para as confissões da Desobriga Pascal que se realizavam na freguesia vizinha. O Padre Bernardino era tido como "um bom prato". Na hora do almoço, este foi servido com a abundância natural de quem tem convidados em casa. Findo este e sabendo o Abade da casa do gosto que o Padre Bernardino tinha pela comida, mandou trazer novamente a terrina para a mesa. Todos os presentes se encolheram porque estavam satisfeitos os seus apetites gastronómicos. O Padre Bernardino então com ar desempoeirado e tomando a iniciativa:
  • - Ah! Vós tendes vergonha!...Olhai que eu não.
  • - E tira a tampa à terrina e de dentro sai um pombo, voando. Então, os outros, galhofando, pediram para não comer tudo e passar a terrina.
  • Padre Bernardino! Padre Bonacheirão, estatura média, cara de boa pessoa, olhar avesso a dificuldades, acabando afinal por criá-las e resolvê-las, é assim que o vêm através das fotografias que o recordam. Morreu vitimado pela pneumónica em 6 de Outubro de 1917. Após sofrimento curto prestou contas em Deus, mas antes teve o bom senso de deixar à filha grande parte dos seus haveres.
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