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ITA DE METZ (Séc. XI)
História
  • Francisco Tavares de Almeida
  • Março de 2013

  • A identidade e relações famiiliares da condessa Ita, mulher do conde Radbot (Habsburg) e assim antepassada de todos os Habsburg, tem já feito correr rios de tinta e foi recentemente (mal)tratada pelos mais diversos e credenciados genealogistas.

  • A questão iniciou-se com a divulgação de uma genealogia do séc. XII - "grosso modo" um século depois dos factos - em que Ita é dita irmã do duque Dietrich da Alta Lorena, do conde Kuno de Rheinfelden e do bispo Werner de Estrasburgo. Estas três condições constituem um "puzzle" sem solução possível e as tentativas de aproveitar alguma informação, geraram a actual confusão em que - apenas em fontes e "websites" respeitáveis - a filiação de Ita tem seis diferentes tratamentos.
    Como agravante deste quadro, as tentativas de compatibilização reflectiram-se nos putativos irmãos e, sobretudo o conde Kuno, de cujo pai não há certezas indiscutíveis e de cuja mãe nada se sabe, aparece com não menos de 10 a 20 diferentes conjuntos familiares e possivelmente mais pois, só na francesa "Geneanet", onde consta em mais de duas mil árvores, das poucas que abri ao acaso, não me lembro de ter visto dois conjuntos exactamente iguais.

  • Os mais prudentes, deixam Ita sem pais, como se vê em "Genealogics" de Leo van de Pas e "Medieval Lands" de Charles Cawley, este último repetindo com "nuances" na página de Kuno, a informação mais completa na de Radbot em que Ita seria meia irmã de Kuno, conforme ES, "provavelmente baseado numa genealogia dos Habsburg" e que é a já mencionada.
    Cawley deixa em aberto a questão da relação could have been related com Kuno, evita o problema de Dietrich, afirmando que a identidade de Theodoricus dux Lotharingorum é confusa no texto e remata remetendo para uma outra tabela de Europäische Stammtafeln em que Ita é irmã do bispo Werner de Estrasburgo (she was the sister of Werner Bishop of Strasbourg), que atribui a uma escritura sem data Argentine civitatis episcopi que recorda a fundação do convento de Muri por Radeboto comes (…) uxorem (…) Itam e precisa que Ita era de partibus Lotharingorum (…) sororem Theodrici ducis ac Wernharii, Argentine civitatis episcopi.
    Acontece que a informação desta Argentine civitatis episcopi apenas repete o que vem na genealogia dos Habsburg Acta Murensia ou Acta Fundationis e as últimas citações, constam igualmente nessa genealogia.
    Cawley não identificou Theodrici ducis com Theodoricus dux Lotharingorum ou esquecera já a dúvida anterior: nem comenta o outro "irmão" Wernharii, Argentine civitatis episcopi. A reboque do nome de Acta Fundationis, Cawley relaciona a escritura com a "fundação" (foundation) do convento de Muri quando anteriormente relacionara a genealogia com a "restauração" (restored) do mesmo convento como está na fonte que refere ...reperatrix huius Murensis cenobii.
    Além de não ter visto o primeiro, não se apercebendo assim das suas contradições intrínsecas, Cawley não relacionou os dois documentos.

  • Resultaria então da Acta... que Ita era irmã do bispo Werner e ac também do duque Dietrich. Por outro lado, noutro ponto da Acta... precisa-se a relação entre Werner e Kuno fratrem suum de matre o que faria então o duque Dietrich também irmão uterino do bispo.
    Mas já um documento de 1114 menciona o bispo Werner como parens do conde Werner II. de Habsburg e também como patruus ou seja, seria o bispo irmão de Radbot marido de Ita e assim seu cunhado.

  • Um outro documento do mesmo séc. XII, Chronicon Ebersheimense também contraria a Acta ... confirmando que o bispo Werner era um Habsburg mas terá sido desvalorizado por conter um erro, dizendo Werner irmão de Lanzelin e sobrinho de Guntram quando era respectivamente filho e neto.

  • Antes de voltar à Acta... e sua crítica, passo em rápida revista alguns dos diferentes enquadramentos familiares propostos para a condessa Ita.

  • Miroslav Marek (euweb.cz) como muito provavelmente as anteriores "Theroff's files" chama-lhe Ita da Alta Lorena e di-la filha do duque Friedrich e de Beatriz de França. Seria assim irmã germana do duque Dietrich e ficava ignorada a relação com Kuno, que o formato adoptado não obrigaria a evidenciar. A ausência de datas também não evidenciava a impossibilidade da cronologia.

  • Uma outra versão fá-la-ia neta do mesmo duque Friedrich, filha de "Henri, comte de Voivre" em "L’Art de vérifier les dates ..." Vol. XIII de Nicolas Viton de Saint-Allais.
    Saint-Allais, terá seguido anteriores edições em que, à boa maneira francesa, se "descobriu" um conde de Voivre - topónimo moderno que nem tem tradução em alemão - e de que não há outra notícia de ter existido.

  • Mais tarde, uma solução que gerou vasto consenso mas de que não consegui determinar a origem e que suponho ter-se devido a considerações cronológicas, dizia-a filha de Konrad, conde em Ortenau, também identificado por Konrad Konradiner, e de Beatriz da Alta Lorena. Mantinha-se o nome Beatriz da mãe e a linhagem paterna passava a materna mas seria então Ita neta por via materna e não filha do duque Friedrich, sobrinha e não irmã do duque Dietrich. Alguns continuaram a não evidenciar a relação com Kuno, outros recorriam para isso a segundos casamentos. Além de dezenas, se não centenas de genealogias on-line, adoptaram esta solução a portuguesa Geneall e a francesa Roglo. Esta última, recentemente alterada (Março de 2013) - possivelmente por indirecta consequência de intervenção minha - atribui agora a Konrad um primeiro casamento com Judith von Öhningen de que teria nascido Kuno von Rheinfelden o que estaria de acordo com a Acta... mas a ascendência dada a Judith tem erros graves e que comprometem a credibilidade da informação.

  • Provavellmente ainda antes, Eduard Hlawitschka desenhou uma complexa solução em que Ita era irmã uterina de Dietrich e a mãe de ambos, Beatriz, teria tido um segundo casamento com o conde Ludwig-Otto de Dagsburg o qual, por anterior mulher, seria o pai do bispo Werner. Esta anterior e desconhecida mulher, teria tido um anterior casamento com o incerto pai de Kuno von Rheinsfelden.
    Dada a indiscutível competência de Hlawitschka a única explicação é que nunca leu a Acta ... que conheceria apenas por uma citação incompleta ou deficientemente interpretada.

  • Outra informação de que também não consegui localizar a origem, dizia Ita irmã do arcebispo Adalbero de Metz "que sucedeu a seu tio". Este Adalbero só pode ser Adalbert III von Luxemburg que sucedeu a seu tio o bispo Dietrich +1046 pelo que seria então Ita filha do conde Friedrich "dito" de Luxemburgo, + 6.10.1019.
    Esta versão que me parece pouco difundida em "websites" pode ler-se no pe. Martin Kiem OSB, editor da Acta Murensia incluída em "Quellen zur Schweizer Geschichte" publicada on-line.

  • Investigação mais recente - presumo eu - vem reflectida em "ww.person" do prof. Herbert Stoyan, e aí Ita é filha de Adalbert II, conde em Saargau e de Metz, e de sua mulher Judith da Suábia. A esta última é dado um primeiro casamento com N... von Rheinfelden mas não são atribuídos filhos, pelo que a relação com Kuno não é por aí evidenciada. No entanto Kuno é dito filho de outro Kuno, da Borgonha e de Lütgard (von Thurgau) e esta última, anteriormente casada com Lanzelin von Altenburg, sendo assim os pais de Radbot, marido de Ida. Esta proposta, é parcialmente inaceitável mas resolve satisfatoriamente a questão de Ita ser já dita "de Metz" em diversas situações anteriores.
    Das quatro fontes citadas por Stoyan na página de Ita, duas são ES e uma anterior pelo que suponho que a matéria inovadora provenha de "The Konradiner" de D.C. Jackson, editado em Frankfurt em 1990.

  • Pormenor que me despertou a atenção, foi a morte da condessa Ita, dada em diversas datas de 1026 até 1035, fazendo assim o marido, quando morre em 1045, viúvo há dez ou mais anos, situação rara e mesmo inusitada nestas famílias em que as alianças matrimoniais eram o meio por excelência de consolidar políticas e patrimónios. Também por isso, entusiasmei-me com um "website" que inclui um diccionário de mulheres célebres e onde a condessa Ita era dita filha do conde Adalbert II - tal como em Stoyan - mas de Judith von Öhningen, a viúva do conde Ludwig de Dagsburg. Acrescentava-se que Ita teria sobrevivido ao marido e morrera ca. 1050 em Muri, onde se recolhera como freira depois de viúva.
    Não me foi difícil comprovar o casamento do conde Ludwig com Judith von Öhningen, aliás já sugerido por Hlawischka sem a identificar e a informação, poderia assim corresponder a uma composição de Stoyan e Roglo, sendo o pai do primeiro e os casamentos, em ordem inversa do segundo.
    O mesmo artigo, adianta a informação de que Ita teria deixado 5 filhos, listando com a mesma informação os habituais 4 mas acrescentando uma Agnes que teria casado com Gottfried "o Barbudo" de Lovaina, duque da Baixa Lorena e deixado descendência. A este é geralmente atribuído um único casamento com uma não identificada Oda e com descendência. Admiti que se pudesse ser confirmada esta última informação, a credibilidade do restante saíria muito reforçada e diria mesmo que confirmada se igualmente pudesse ser documentada a entrada de Ita como freira em Muri, aqui com boa cronologia pois Ita, presumivelmente nascida ca. 1000 (por estimativa a partir dos filhos) ou ca. 990 (por estimativa a partir da morte do primeiro marido da mãe) teria morrido com 50-60 anos. Infelizmente, a informação relativa a Agnes revelou-se errada e não pôde ser localizada a fonte que primeiro teria referido a entrada de Ita como freira em Muri.

  • Regressando agora à Acta Murensia ou Acta Fundationis começa ela com:
    Ista est genealogia nostrorum principum. Theodricus, dux Lotharingorum et Chòno, comes de Rinfelden, fratres fuerunt. Horurn soror Ita, comitissa de Habspurg, reperatrix huius Murensis cenobii.
    E seguem-se as descendências em três gerações dos patronos, começando pelo duque Dietrich:
    Genuit autem Theodricus Gerhardum ducem.
    Esta é a primeira grande objecção à Acta ... pois nenhuma dúvida há de que o duque Gerhard não foi filho do duque Dietrich, que não teve filhos, mas de outro Gerhard que nem era da linhagem da Alta Lorena mas da Alsácia, da Casa dos condes de Metz e que ficou conhecido por conde Gerhard de Bouzonville.
    Alguns - poucos - entenderam que este erro é de tal forma clamoroso que retira credibilidade a todo o resto e, pura e simplesmente, ignoraram a Acta ... como documento. Mas tratando-se da mais extensa (des)informação sobre três importantes famílias, a grande maioria preferiu não afastar totalmente a Acta ... procurando explicar os erros e reinterpretar o que nela se escreveu. Das várias possíveis explicações adiantadas, a única que não rejeitaria liminarmente seria o erro de cópia pois o exemplar que se conhece da Acta ... é já uma reforma do documento original, efectuada no final do séc. XIV. Mas teriam de ser vários os erros de cópia.

  • Depois, nada indica que o duque Dietrich e o conde Kuno pudessem ter sido irmãos frates fuerunt e, salvo algumas excepções sem significado e sem autoridade, ninguém se atreveu a fazê-los irmãos germanos, embora muitos os tivessem feito meios irmãos o que foi relativamente fácil pois nada se sabe da mãe de Kuno e nem a identidade do pai está documentadamente comprovada.
    Ita seria irmã de ambos Horum soror mas aqui permite-se alguma flexibilidade, pois sendo Ita dita irmã em diferente sentença, não existindo em latim palavra específica para meia-irmã e até nem para cunhada, o campo de possibilidades alarga-se.
    Algumas páginas depois, as respectivas relações são algo clarificadas, ...nomine Itam, sororem Theodrici ducis ac Wernharii, ....
    Portanto Ita, além de irmã de Dietrich, seria também irmã de Werner (o bispo de Estrasburgo) e este último seria irmão uterino do conde Kuno: ... comitem Chòno, fratrem suum de mater..
    Assim Ita seria irmã do bispo Werner e ambos irmãos uterinos de Kuno de Rheinfelden e também do duque Dietrich, com a dificuldade inerente já acima apontada. Esta (des)informação foi irresistível para os genealogistas que conseguiriam assim matar dois coelhos de uma cajadada, identificando também a mãe do esquivo conde Kuno. Por isso quando o primeiro pai atribuído a Ita foi descartado por impossibilidade cronológica, logo se fez a nova mãe Beatriz da Alta Lorena, casada uma vez com Konrad, conde em Ortenau e outra com o pai do conde Kuno, este com identidades várias; mas quando surgiu novo pai para Ita, Adalbert de Metz, logo à mulher deste Judith da Suábia, se atribui um primeiro casamento com N... von Rheinfelden. E o mesmo fez já quem optou por Judith von Öhningen para mãe de Ita, fazendo então aquela casada também com o pai de Kuno.
    Anoto ainda que ambas as soluções constantes em Stoyan, merecem reprovação. A mais complexa, que faz Lütgard von Thurgau casada primeiro com Lanzelin, conde de Altenburg e pais de Radbot, marido de Ita e do bispo Werner, e casada depois com o conde palatino Kuno da Borgonha e pais do conde Kuno de Rheinfelden, faz este último irmão uterino do bispo mas este já não seria irmão mas tio de Ita. Ora soror será normalmente irmã ou meia-irmã e, em alguns casos, cunhada, mas nunca sobrinha. A mais directa, que faz Judith da Suábia casada com Adalbert de Metz e pais de Ita, e casada também com N de Rheinfelden, faria Ita cunhada do bispo mas este já não seria irmão de Kuno. Anoto ainda que N von Rheinfelden parece despropositado pois não há nenhuma evidência de um anterior condado ou senhorio de Rheinfelden, que deverá ter sido extraído de outra jurisdição e especialmente para Kuno. Aliás, é exactamente a falta de propriedades transmitidas a Kuno que dificulta a sua identificação.

  • Para atribuir alguma veracidade à Acta Murensia seria então necessário ignorar o erro relativo à filiação do duque Gerhard, ignorar o erro de considerar Ita da Casa da Alta Lorena, ignorar igualmente o erro geracional em Ita e no bispo Werner, ignorar o erro na fundação de Muri e finalmente admitir que o autor, obviamente religioso, raciocinava em função das proibições canónicas que fazem equivaler relações de consanguinidade a relações de afinidade. Assim poder-se-ia, à semelhança de Hlawitschka, construir uma hipótese complexa em que Ita seria, como era, cunhada do Bispo Werner, irmão uterino de Kumo, que seria também cunhado de Ita e de Dietrich o que não seria impossível, nada se sabendo então da mulher de Kuno. Mas, além de uma solução deste tipo ser demasiado forçada para ser credível, também ela caíria em casamentos com grau de proibição canónica e a própria Acta... a afasta pois a redacção utilizada é inequívoca ao dizer Ita irmã do bispo Werner, antes do seu casamento.
    Sublinhe-se que a própria Acta ... contem elementos que demonstram contradições intrínsecas. Desde logo, sendo, segundo a Acta ... fundadores de Muri o bispo Werner e sua "irmã" Ita não faz qualquer sentido ser esta dita "restauradora" de Muri. Então Muri, precisaria de ser restaurado ainda em vida de um dos dos fundadores.

  • Também um já mencionado documento de 1114 refere que o conde Werner II de Habsburg é parente parens do bispo Werner e este, por sua vez seu tio paterno patruus; ou seja contem a informação directa de que o bispo é bem Habsburg e não Lorena e indirecta de que seria cunhado de Ita. Mais importante ainda, como abaixo se verá, reconhece no conde Werner II que o patronato de Muri é bem dos Habsburg, sem qualquer referência à Casa da Alta Lorena e que assim continuou na geração seguinte.

  • Concluindo-se já que a Acta ... não tem credibilidade nas primeiras gerações dos seus três ditos patronos, havia que averiguar se se tratava de erros se de deliberadas falsidades.
    Isso foi efectivamente feito por Hermann Bloch num extenso artigo com o título traduzido de "Sobre a origem do bispo Werner I de Estrasburgo e as fontes da história dos primeiros Habsburg" publicada em 1908 em Heidelberg numa "Revista da História do Alto Reno" Nova Série, Nº 23, uma edição da Comissão Histórica de Baden e que muito me surpeende que tenha sido ignorado por todos os genealogistas que se dedicaram a Ita, com especial relevância para Eduard Hlawitschka.
    H. Bloch contextualiza a Acta ... no seguimento do II Concílio de Latrão em 1139 e no posterior Breve de Reconhecimento do Papa Inocência III a Muri. Estava em curso nova reforma da Igreja mas a autoridade que a podia ou não aprovar nos conventos eram os patronos e não os abades. Ora não só as regras de transmissão automática dos direitos de padroado se limitavam-se à legítima transmissão varonil, como a Acta ... afirma que o bispo Werner cedera os seus direitos ao "trono de S. Pedro" quando na sua viagem passara por Roma, e ainda que ambos, Werner e Ita, teriam nomeado Kuno de Rheinfelden advogado de Muri. Ou seja, os herdeiros de ambos tinham o direito de representação, ocupariam o primeiro lugar no protocolo de qualquer cerimónia mas já não teriam o padroado.
    Teria o abade Kuno desejado a reforma mas sabendo bem que a alta nobreza se opunha porque lhe retirava poder, congeminou a mencionada Acta. E a inclusão nela, com manifesta perda de credibilidade, de Kuno de Rheinfelden e do duque Dietrich da Alta Lorena, apenas revela algum maquiavelismo do abade, movido embora que fosse por nobres intenções.
    Fazer Kuno e Dietrich irmãos uterinos do bispo Werner, não conferiria direitos de padroado aos seus herdeiros mas dar-lhes-ia igualmente o direito de representação, honra não despicienda para soberanos que, se a não tivessem, teriam de dar a primazia a vassalos se quisessem assistir a alguma cerimónia. Estaria então em curso a revolta de Rudolf, filho de Kuno, reconhecido imperador pelo Papa que excomungara Henrique IV, e o bom do abade, não sabendo quem ganharia a guerra, apostou em ambos.
    Incidentalmente, isto vem provar que o abade não sabia quem tinha sido o pai do duque Gerhard o que não é de estranhar pois nem Lorenas nem Metz tinham sido patronos de Muri, pelo que não haveria documentação sobre as suas famílias no convento e havia já decorrido mais de um século.

  • Finalmente - entre outros no mesmo sentido - também o historiador suiço Jean Jacques Siegrist, especializado em história regional de Aargau e com trabalhos publicados especificamente sobre Muri, embora com diferente interpretação pois não culpa o abade Cuno mas uma das duas facções que se confrontavem no convento, igualmente considera forjada a genealogia de Muri mas demonstra ainda que o testamento do bispo Werner, supostamente escrito em 1027, contém informação que só se tornaria verdade algumas décadas depois.

  • Provada a falsidade da genealogia de Muri, há então que eliminar tudo o que se vê com óbvia origem nela e procurar o que se sabia antes da sua mais alargada divulgação.

  • Sobre o duque Dietrich e o conde Kuno, há que esquecer tudo o que está na Acta Murensia e o último continua sem mãe conhecida e com pai apenas provável. A mulher que lhe dá Stoyan, uma inominada filha de Robert von Genf e de Mathilde von Burgund, tem como fonte "A. Wolf: Ein Kampf um Genf. in: M.Senn, C.Soliva: Rechtsgeschichte und Interdisziplinarität, Bern, Berlin, 2001" suficientemente moderna para poder ser ignorada por outros e que terá informação originada na Casa de Genf (Geneva, Suiça) e não nas já esgotadas fontes da Lorena, pelo que parece de aceitar.

  • Quanto à condessa Ita, embora sem fontes primárias identificadas, ES resolve satisfatoriamente a questão pois na Edição de 1980 Vol. I Tabela 12, Schwennicke filia Ita em Adalbert de Metz, conde em Saargau e Jutta de Oeningen, suspeitando eu, sem ter confirmado, que seria repetição do que já constaria na anterior série editada por Isenburg. Depois revê, e na edição de 1997 Vol. I.1 tabela 38 apenas afirma que era irmã do bispo Werner, falecido em 1028 e inacreditavelmente, lista o mesmo bispo como irmão mais novo de Radbot, fazendo assim Ita casada com um irmão germano.
    Adivinha-se o intuito de Schwennicke em evitar controvérsias, dado o envolvimento com a Acta ... de destacados membros da academia alemã mas, poque não é problema que me afecte, encerro o presente "dossier" inscrevendo como pais de Ita, Adalbert de Metz e Judith de Öhningen.

  • Crédito:
    Toda a base documental se deve à boa vontade de Peter Stewart que me enviou "links" para a Acta Murensia, imagem original e editada, artigos citados e outros e ainda "scans" das duas tabelas de "ES".
© 2004  Guarda-Mór, Edição de Publicações Multimédia Lda.