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Uma Sentida Perda
História
  • Francisco Tavares de Almeida
    Junho de 2010

  • Em genealogia, seja esta entendida como estudo das linhagens ou como dos costados, encontram-se por vezes casais que adquirem significado desproporcionado ao seu circunstancialismo social e biográfico, por serem antepassados “massivos” na sua zona geográfica. É o caso de Hans Vaut e Elisabeth Plieninger que na Suábia são entre muitos outros, antepassados de:
    Hauff «http://de.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Hauff»;
    Hölderlin «http://de.wikipedia.org/wiki/Friedrich_H%C3%B6lderlin»;
    Mörike «http://de.wikipedia.org/wiki/Eduard_M%C3%B6rike»;
    Moser «http://de.wikipedia.org/wiki/Johann_Jacob_Moser»;
    Schelling «http://de.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Wilhelm_Joseph_Schelling»;
    Schiller «http://de.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Schiller»;
    Uhland «http://de.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Uhland»;
    e Vischer «http://de.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Theodor_Vischer».
    Porque os alemães adquiriram o gosto pelo estudo dos costados dos seus cidadãos célebres, aparecem em diversas obras publicadas pelos mais conhecidos genealogistas. Acresce que um dos filhos, Conrad (1446-1516) chefiou a oposição ao duque Ulrich pelo que, quando este regressou do exílio, foi preso, torturado, sujeito a um julgamento-fantoche e finalmente decapitado e esquartejado na praça do mercado da cidade de Stuttgart. Sobre este Conrad Vaut há inúmeras menções e artigos e dois livros biográficos, além de outros de natureza histórica que também sobre ele se debruçam com maior ou menor pormenor. Serão assim muitas dezenas de referências e, até há pouco, nenhuma duvidando explicitamente de que sua mãe seria filha de Hans von Plieningen e Adelheid Megenzer (von Felldorf) ele de uma família de nobreza antiga, documentada desde 1142 e com genealogia consistente desde o início do séc. XIV.

  • A nobreza “alemã” divide-se entre “Uradel”, a nobreza antiga, por vezes anterior aos soberanos e “Briefadel”, literalmente nobreza (por) carta concedida já pelos sobreranos, iniciando-se convencionalmente entre meados e finais do séc. XIV, similarmente ao que se passou noutras zonas próximas, por exemplo na Polónia onde se designa por nobreza imemorial a anterior a 1400. Noutra classificação, divide-se também entre “Hochadel”, literalmente alta nobreza, e “Ritterbürtige Adel” que pode ser traduzido por nobreza cavalheresca.
    Famílias do “Uradel” podem pertencer ao “Hochadel” ou ao “Ritterbürtige Adel” mas famílias de mais recente nobreza, do “Briefadel”, nunca pertencem ao “Hochadel”.
    Em tempos mais recentes, generalizou-se o predicado “von”, raramente “vom” como identificativo da nobreza e muitos pensarão que se trata de uma relação biunívoca. Em termos maioritários, sê-lo-à certamente mas nem sempre foi assim e ainda há excepções: quer famílias que usam “von” e não são nobres quer famílias nobres que nunca usaram “von”. “Von” significa “de” e embora existam outras formas de expressar “de”, como “aus” e também em certos sentidos “auf”, estas não aparecem a qualificar nomes de família e raramente como determinativos de origem geográfica, o que em tempos recuados, ocasiona ambiguidades nos significados de “von”, se locativo, se nobiliárquico. Por outro lado, os alemães têm outra forma de fazer o locativo ou toponímico que é o sufixo “er” também usado em apelidos originados em profissões ou alcunhas.

  • Como dito, a “Briefadel” iniciou-se ainda antes de 1400 e terá demorado cerca de dois séculos até à completa generalização do predicado “von” que, pelo menos tal como eu entendo, não deve ser presumido mas explícito na mercê. Assim e durante o período de transição cujo término “grosso modo” coincidirá com o início dos registos paroquiais, um “von (nome de) Lugar” tanto pode ser um nobre do “Uradel” como um não nobre originário desse Lugar e o mesmo acontece com um "(nome de) Lugar+er".
    Apenas pelo apelido, Elisabeth Plieninger que nasce cerca de 1415 e antes de 1419, podia ser nobre ou não nobre mas originária de Plieningen; o seu atribuído pai, suficientemente documentado mas sem grande destaque, é hoje Hans von Plieningen devido a opções posteriores, pois coevamente seria concerteza muitas vezes referido como Plieninger.
    Poderá ser exemplo ilustrativo a família Ehinger, de Ulm, que se origina com Walther von Ehingen, um cavaleiro que terá nascido ainda no séc. XII e seria proveniente de Ehingen, na região de Nördlingen (Ries). Depois e durante três séculos usaram predominantementes Ehinger. Já no séc. XVI alguns, possivelmente para afirmar o seu “status” retomam o “von Ehingen” o que cedo se extingue, enquanto outros usaram “von Ehinger” o que só não seria um pleonasmo porque de facto o “von” era já exclusivamente nobiliárquico. No ramo de que descendo e que adquiriu o senhorio de Balzheim, usaram Ehinger von Balzheim.

  • Foi Ferdinand Friedrich Faber, na sua monumental “Familien-Stiftungen” e mais exactamento no “Bayer’schen Stiftung” publicado em 1853 quem desfez a ambiguidade: sem identificar os pais, chamou à mulher de Hans Vaut, Elisabeth “geborn” (nascida) Edle von Plieningen (“Edle” significa nobre, pertencente ao “Adel”); esta designação seria depois “ampliada” para von Plieningen und Wangen, para incorporar o conhecimento de que havia nascido em Wangen, perto de Stuttgart. Faber citou como fonte a genealogia de Johann Jacob Moser, de 1756 na tábua II, da ascendência Vischer.
    Não sei exactamente quem foi o primeiro a identificar os pais como Hans von Plieningen e Adelheid Megenzer, se Hansmartin Decker-Hauff em “Antepassados e descendentes de Hans Vaut e Elisabeth von Plieningen” de 1958 ou Gerd Wunder num artigo sobre os “Nobres antepassados de Schiller” anos depois confirmado na sua “História da família Schenk von Stauffenberg” de 1972. Ambos citam Faber e Richard Lauxmann “Conrad Vaut ...” de 1930; Decker-Hauff cita ainda Oswald Gabelkofer, famoso médico, historiador, bibliotecário e arquivista, falecido em 1616.

  • Esta confortável situação apenas se alterou em 2005 com um livro (126 págs.) do dr. Thilo Dinkel e do prof. Günther Schweizer “Antepassados e Família do poeta Friedrich Schiller” editado por uma associação de genealogia do Württemberg e Baden.
    Não li esse livro e é assim pelas reacções e transcrições de terceiros que me apercebi do seu conteúdo, o que pode levar a erros de apreciação. Será no entanto claro que nega a ascendência nobre de Elisabeth Plieninger ou, pelo menos, lhe retira as bases.
    Também não sei qual a colaboração real do prof. Schweizer mas é pena que, tendo mudado de opinião quanto à filiação de Elisabeth Plieninger não tenha explicado as suas razões (G. Schweizer e G. Todt investigaram profissionalmente a ascendência de Brigitte Gastel Lloyd e aí Elisabeth está como filha de Hans von Plieningen e indicados Schweizer e Todt como fontes).
    O livro, muito resumidamente, referirá que:
    a) Na tábua Vischer, de J.J. Moser, citada por Faber, Elisabeth não aparece von Plieningen mas Plieningerin;
    b) Gabelkofer também a identifica como Plieningerin e não identifica quaisquer filhos ao casal Hans von Plieningen e Adelheid Megenzer;
    c) Lauxmann, chama-lhe Plieninger e não se compromete com a ascendência nobre.

  • Passando à análise destas objecções.

  • a) Johann Jacob Moser, um jurista de enorme craveira, autor de mais de 500 obras e considerado um dos fundadores do Direito Internacional Público, rarissimamente atribui o predicado “von”. É significativo que tendo ele próprio direito ao predicado - como quarto neto por legítima varonia de Valentin Moser von Filseck und Weilerberg, nobilitado com foro de fidalguia hereditária pelo imperador Maximiliano II em 1573 - nunca usou “von” e, quando viajava incógnito em missões de natureza diplomática, identificava-se por vezes como “dr. Weilerberg”.
    Por outro lado, nas declinações próprias, Plieningerin é o feminino de Plieninger.
    Assim, esta é uma objecção que não o é.

  • b) Gabelkofer foi muita coisa mas não foi um genealogista e quase nada nos seus apontamentos tem natureza genealógica, sendo embora uma excelente fonte para genealogistas.
    Encarregue pelo duque do Württemberg de registar os eventos do ducado, terá sido um cronista mas essencialmente foi um arquivista “Hofregistrator” e os seus apontamentos são essencialmente provenientes da chancelaria (nomeações) e do almoxarifado (pagamentos). Ora Hans von Plieningen, documentado entre 1390 e 1438 foi em 1405 “Edelknecht” (talvez semelhante a escudeiro-fidalgo) em Göppingen, esteve depois entre 1424 e 1435 ao serviço dos condes de Zollern e foi em 1438 nomeado “Richter” (juiz) em Wildbad, uma pequena cidade, hoje com cerca de 11 mil habitantes.
    Não vejo qualquer razão para Gabelkofer ter tido acesso a informação sobre eventual filha ou filhos de Hans, que terá casado com Adelheid cerca de 1413. Nem qualquer razão haveria para que Gabelkofer relacionasse a Elisabeth Plieninger, mulher do juiz Hans Vaut, com Hans Plieninger pois Gabelkofer não foi um genealogista nem procurou agregar informação linhagística.
    A formulação que se encontra numa entrada da Colectânea Gabelkofer na biblioteca de Stuttgart, Elisabetha Plieningerin von Wangen, nada diz sobre o seu estatuto nem sobre a sua família; apenas regista que nasceu ou seria proveniente de Wangen.

  • c) Lauxmann é, de facto, omisso. Não se pronuncia e se podemos presumir que se demarca da atribuída ascendência nobre que não devia ignorar, podemos igualmente presumir que não encontrou bases para a refutar, como parecem depois fazer Thilo Dinkel e Günther Schweizer. Se é que não ignorou a questão, no máximo podemos dizer que teria dúvidas, no mínimo que não quiz pronunciar-se.

  • Sem o ter lido em primeira mão, sinto alguma dificuldade em apreciar o livro que, suspeito, será (também?) um fruto do seu tempo. A genealogia, como tudo na vida, está sujeita a “modas”. Tempos houve em que a todas as famílias da alta nobreza se atribuía origem agnática real; outros em que à maioria dos bem sucedidos socialmente se atribuiam origens nobres remotas. Na Alemanha, era com manifesta satisfação que se identificavam linhas nobres na ascendência de grandes intelectuais, músicos, poetas, filósofos, etc.. Mas modernamente há uma tendência para o “nivelamento por baixo” e, como que um prazer em desfazer algumas dessas ligações, por vezes presumidas, convenhamos, com fraca evidência contextual e nenhuma documental.
    Com a já citada ressalva de não conhecer em primeira mão o trabalho de Dinkel e Schweizer - muito importante porque os epígonos são quase sempre muito mais facciosos do que os mestres - diria que o livro parece, neste particular, pouco objectivo ou então que enfermará de preconceito anti-nobiliárquico.
    Não abordará a questão de saber o que teria levado Faber, Decker-Hauff e Wunder a atribuir a origem nobre a Elisabeth Plieninger. Ao invés, compara o que se encontra em Gabelkofer e Moser para concluir que as afirmações dos primeiros seriam, pelo menos, parcialmente falsas, o que, mais uma vez, poderá ser formulação de seguidores.

  • Conheço bem a enorme obra de Faber que tenho em arquivo “pdf”. Faber foi um funcionário superior de finanças “Finanzrat” e escrutinou estipêndios, legados testamentários que, diferentemente das nossas capelas e morgadios, eram atribuíveis aos descendentes por diferentes ramos com ordem preferencial predefinida, para frequentarem a universidade (também os houve para profissões técnicas mas em número negligenciável) escolhendo ou não o ramo, vulgamente leis ou cânones. Os “estipendiados” recebiam assim “bolsas de estudo” e o seu direito subordinava-se a aptidão - por vezes exigia-se a candidatura aceite mesmo se não contemplada a algum outro estipêndio de referência - mas sempre sujeito às regras de precedência das estirpes, como definidas pelo instituidor. Além da administração económica e financeira, a conservação e análise das genealogias era assim tarefa dos administradores de estipêndios e porque a esmagadora maioria dos instituidores eram casais sem filhos, extinto um ramo, era necessário ascender na árvore, sendo relativamente vulgar ir buscar linhas de descendência a tios-avôs e tias-avós pois na boa tradição franca, linhas femininas não eram normalmente excluídas pelos instituidores. Se pensarmos em instituidores em final de vida de finais do séc. XVI ou inícios de XVII logo vemos que alguns ramos iniciais seriam bem anteriores aos registos paroquiais.
    Faber foi mais um compilador e do que um investigador e alguns erros nessas primeiras épocas, serão sobretudo derivados de erradas tradições familiares, recolhidas posteriormente para instruir processos de candidatura. É paradigmático o caso do Strylin’sche Stiftung em que um ramo Mögling vem no séc. XIX reclamar baseado na sua genealogia o que foi rejeitado pela Faculdade de Direito, chamada a pronunciar-se em 1837. Faber concorda anotando que o genealogia Mögling, se exacta, implicaria o casamento de dois irmãos uterinos. Enunciada a impossibilidade Faber, curiosamente seguido por alguns genealogistas ainda hoje, avança com uma solução que implicaria um claríssimo impedimento por consanguinidade, isto muito antes da Reforma.
    Mas em nenhum lado vejo Faber com preocupações nobilitantes e, se conheço alguns casos em que Faber não atribui o “von” a quem o tinha de direito - e que poderia de facto não o ter usado - não me apercebi de nenhum caso de sentido contrário, isto é, atribuir o “von” a quem o não tinha.
    Não tenho a menor dúvida de que, errado ou não, Faber identificou Elisabeth como Edle v. Plieningen por estar convicto de que o era. De facto, elencando os filhos do casal, Faber chama à mulher de Johannes, Barbara Gaisberger. Ora esta Barbara era filha de Claus von Gaisberg, nobilitado em 1499 e da família dos depois barões de Gaisberg-Schöckingen. Os dois irmãos de Agnes, Claus casado com Clara Mager e Christoph casado com Anna von Baldeck, são habitualmente identificados como von Gaisberg. Quando Faber publicou, o nome Gaisberg era já mais do que suficiente para o alertar se estivesse preocupado com o elencamento de nobres.

  • O dr. Gerd Wunder, genealogista e historiador regional, se alguma especialidade terá, é em famílias da burguesia. É certo que publicou “Os Schenk von Stauffenberg, história de uma família” mas a sua obra de referência é “Burgueses de Hall, história social de uma cidade imperial 1216-1802”.
    Também ele, se entendeu que Elisabeth seria da nobreza, teria as suas razões.

  • O prof. dr. Hansmartin Decker-Hauff «http://de.wikipedia.org/wiki/Hansmartin_Decker-Hauff» além de professor de história com mais de 70 dissertações publicadas, foi um grande genealogista. Quem porventura conheça o excelente “site” alemão de genealogia medieval “Mittelalter” está certamente familiarizado com o nome de Decker-Hauff.
    Claro que, como todos, tem erros e algumas fraquezas. Nomeadamente identificou diversas linhas de descendência por bastardia de que tenho três nas minhas bases de dados, duas na ascendência e outra colateral, pelo que terá alguma tendência para entroncamentos não expressamente documentados. Há uma dezena de anos, provou-se errada uma outra linha de Decker-Hauff - uns Volland que segundo ele descenderiam do duque do Württemberg - o que teve grande repercussão mas, na minha opinião, não será o suficiente para lhe diminuir a reputação. Dos três casos que tenho, um, confesso, está baseado em evidência que eu consideraria insuficiente e só não o elimino da minha árvore porque nunca foi - que eu tenha conhecimento - posto em causa e é endossado por ES - Europäische Stammtafeln, a “Bíblia” da genealogia alemã; outro, apesar de indocumentado, além de coerência cronológica e onomástica apresenta uma transmissão de propriedade que lhe confere plausibilidade; finalmente o terceiro, na ascendência de Goethe, o maior poeta alemão, de que não investiguei pormenores por me ser colateral, também não creio que tenha sido posto em causa e a ascendência de Goethe foi certamente escrutinada por terceiros.

  • Portanto, três credenciados autores, dois deles sem preocupações nobilitantes, todos muito conhecedores dos estratos sociais na época, atribuiram a Elisabeth Plieninger ascendência nobre. Parece proveitoso especular sobre os seus possíveis motivos.

  • Tendo Plieninger origem toponímica, se fosse de 5% a percentagem de pessoas com estatuto nobre, poderíamos dizer que Elisabeth Plieninger teria 5% de probabilidades de ter origem nobre. Mas não é assim, porque há que ter em consideração o seu casamento com Hans Vaut.
    Há historiadores que entendem que na Alemanha e, em especial, na Suábia, não é consistente a clássica divisão em clero, nobreza e povo, por ser imprescindível uma quarta categoria, a dos burgueses. Estes, além do que em aparente pleonasmo poderíamos chamar os burgueses municipais, incluirão uma sub-categoria específica as “gelehrten Familien” as famílias “conhecedoras” ou, se quisermos, as famílias letradas que podendo ter origem na pequena nobreza ou na burguesia e casando em ambos os estratos, constituiram uma elite no Württemberg protestante. Sendo por um lado, um grupo social aberto - um “estranho” desde que possuidor de um grau académico, era facilmente aceite, muito mais facilmente do que um comerciante próspero que, ainda que nascido nesse grupo, dificilmente casaria com uma filha de um professor universitário - era contudo fechado no sentido sócio-profissional e muito mais fechado do que a pequena nobreza. Os seus membros eram, por esta ordem, funcionários, clérigos ou professores; militares eram raros e comerciantes encontravam-se nas orlas, as mais das vezes originando ramos que se descaracterizavam. Ora Hans Vaut, um juiz com descendência que manteve e elevou o seu “status” nunca poderia ter casado fora da burguesia ou da pequena nobreza. E destas, a burguesia é neste caso concreto muito menos provável, por duas ordens de razões.
    Desde logo, Elisabeth não seria de uma família de letrados, senão seriam conhecidos cargos de familiares. Também muito improvavelmente seria da burguesia municipal pois isso apenas seria provável se ela fosse de Zuffenhausen, ou de outro lugar onde o marido tivesse tido um emprego. De facto, um funcionário, neste caso um futuro (semelhante a) juiz de fora, quer porque fosse uma escolha mais fácil quer porque facilitaria a sua aceitação como burguês municipal - conveniente por motivos fiscais e por vezes, condição “sine qua non” para poder adquirir uma casa - facilmente casaria com uma jovem de família da burguesia local. Já ir buscar uma jovem de família burguesa de outra cidade, além de não ser tão fácil, não teria qualquer vantagem associada.
    A segunda ordem de razões prende-se com a formação dos nomes de família. Uns Plieninger que não fossem nobres, teriam origem não recente em Plieningen. Teriam saído de Plieningen ainda sem nome de família ou com nome de família pouco vinculado, pois teria sido substituído pelo toponímico, o que muito dificilmente ocorreria numa família burguesa inscrita no respectivo livro da cidade, e nunca numa família da burguesia letrada. Ou seja, teríamos de postular um emigrante de Plieningen, sem vinculação a nome de família que, bem sucedido no comércio ou numa profissão, porventura destacando-se na respectiva Guilda, tenha sido aceite como novo burguês, com o nome de família Plieninger. Depois um seu descendente que em Wangen exercesse cargo ou profissão não suficientemente importante para ficar documentado nem tão humilde que fosse impeditivo do casamento da filha. Impossível, impossível, não seria ..., mas parece de facto muito mais provável uma origem na pequena nobreza que, numa cultura em que as mulheres também herdavam, seria sempre portadora de alguns bens, ainda que móveis, o suficiente para tornar o casamento atractivo a um funcionário em início de carreira.

  • Se foi por considerações desta ordem que Decker-Hauff e Wunder filiaram Elisabeth na nobreza - o primeiro parece ter alegado ter encontrado prova documental no arquivo de Stuttgart onde também trabalhou algum tempo, mas nunca a apresentou e não foi até hoje encontrada - apenas me parece provável; Faber teria mais provavelmente recolhido essa tradição em algum ramo familiar.

  • Christine Bührlen-Grabinger que publicou em 1986, em edição do arquivo regional de Stuttgart, uma excelente e muito bem documentada monografia “Os senhores de Plieningen” aí escreveu que Hans v. Plieningen e Adelheid Megenzer, podem ter tido uma filha Elisabeth que casou com Hans Vaut. E depois, não exclui que possa Elisabeth não ser filha de Hans mas descendente de um seu próximo antepassado por forma não conhecida. Isto é, a dra. Bührlen-Grabinger não só não encontrou qualquer evidência de que Hans e Adelheid não tiveram filhos, como parecem pretender Dinkel e Schweizer, por não os encontrar em Gabelkofer, como nem considera a hipótese de Elisabeth não ser da família von Plieningen.

  • Sendo assim mais provável filiar a origem de Elisabeth na linhagem dos senhores de Plieningen, o ónus da prova recairá sobre quem lhe atribui uma origem burguesa. Ainda que sem prova documental, o mínimo exigível seria algum circunstancialismo que desse consistência à hipótese.
    Este seria o estado da arte. Dinkel e Schweizer deveriam ser descartados porque não demonstram nem sequer explicam minimamente uma origem não nobre que, não sendo impossível, era improvável. Na linhagem dos senhores de Plieningen, Hans e Adelheid Megenzer seriam os pais que imediatamente se perfilam, sem discrepância onomástica (Elisabeth teria o nome da avó materna) cronológica ou social mas sem comprovativo documental.

  • Contudo muito recentemente, este panorama alterou-se substancialmente. Entre as diversas bases de dados que continuamente aparecem de novo na “web” encontrei em “Verein für Computergenealogie” um mega “site” de genealogia alemão, um “GedBas” onde encontrei algumas correspondências com a minha ancestralidade. Não obtive novos nomes de ascendentes, o que é bom porque funciona como comprovativo nos dois sentidos, isto é, reforça a confiança na velhinha investigação que me passou o Jorge Moser e dá-me igualmente confiança nesta BD pois posso à partida comprovar uma parte. Mas encontrei novos colaterais - a investigação inicial que tinha era limitada à árvore de costados - e, sobretudo, muito enriquecedores dados biográficos, estes igualmente de grande fiabilidade pois em nada contrariam o que já tinha e o que depois recolhi em Faber e noutros autores, mas por vezes aparecem substancialmente mais desenvolvidos em pormenores e datas, o que denota uma investigação de grande qualidade.
    Quando constatei que Elisabeth Plieninger ali aparece nascida em Untertürkheim “provavelmente filha de um magistrado” Gerhard Plieninger, contactei o autor no sentido de obter informação complementar. Infelizmente o dr. Gerhard Holland, como simpaticamente me informou, apenas pôs “on-line” um trabalho de investigação de um seu parente que suponho já falecido e não me soube acrescentar nada, nem mesmo as fontes originais que, neste caso, não constavam da informação.

  • É certo que a paternidade de Elisabeth permanece indocumentada mas a indeterminação não invalida o facto de se ter verificado o que eu considerava de muito baixa probabilidade: a ocorrência de um magistrado “Schultheiß” Plieninger, exactamente com categoria profissional intermédia que simultâneamente poderia ter ficado documentada de forma até agora despercebida, mas idónea para pai da noiva de um futuro juiz que, quem sabe, nessa data poderia igualmente ser magistrado e ter coadjuvado ou sucedido ao sogro. Untertürkheim, apesar de se situar na margem oposta do Neckar, está a menos de 2 km de Wangen o que praticamente vale como o mesmo local e dada a qualidade do trabalho posto “on-line” pelo dr. Gerhard Holland, nem por um momento duvido que esse magistrado Plieninger esteja documentado numa cronologia possível.
    Terei assim de podar esse ramo von Plieningen da minha árvore, o que farei com imensa pena pois retira-me a ligação que muito prezava à chefia dos Schenk von Stauffenberg, que só mantenho agora em linha ilegítima e colateral, e da qual, pelo menos por enquanto, não sei fazer o entroncamento.
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