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O timbre de Tavares ...
História
  • … e a provável origem da família Tavares de Almeida

    No “Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas” de António Godinho, o timbre de Tavares é pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro. Deste timbre conheço apenas quatro excepções:

    a) Numa CBA de 1534 citada por Braamcamp Freire: cavalo selado, nascente, de vermelho, bridado de oiro.
    b) Noutra de 1788 em Monarchia Lusitana, Nobiliarquia Portuguesa: cavalo nascente de vermelho, bridado de oiro.
    c) Na Sala dos Veados do Palácio de Sintra: cavalo branco, de sua côr, nascente, bridado de oiro.
    d) CBA de 1802 ao desembargador Francisco Tavares de Almeida: cavalo nascente de vermelho, selado e com freio de ouro.

    Quanto à última, convém referir que até inícios de 2008 se pensava na família que o cavalo era branco. Esta convicção existia nos dois principais ramos, com poucos ou quase nenhuns contactos entre si e constava em desenhos, peças escritas, almofadas, bordados, etc. pelo que o erro teria origem remota.

    A Carta d'Armas fôra concedida ao desembargador Francisco Tavares de Almeida (1759-1814) em 20 de Novembro de 1802 e, naturalmente, encontrar-se-ia na sua posse. Quando este morreu solteiro, encontrava-se de relações frias ou mesmo cortadas com seu irmão António (1758-1825) e o motivo ou pelo menos o pretexto, foi anterior à concessão da Carta d'Armas. Porque deixou todos os seus bens a um serviçal, Joaquim Victorino de Almeida, é muito provável que a Carta original nunca tenha sido vista nem por seu irmão António nem pelos filhos deste, João (1792-1830) e Francisco (1803-1879) que originaram os dois grandes ramos desta família. Por isso, sem descartar totalmente que pudesse ter havido um lapso do escriba na Carta d'Armas original, o mais provável é que esse lapso tenha ocorrido numa primeira transcrição ou certidão, provavelmente obtida entre 1814 e 1825 ou seja, entre as datas de falecimento do desembargador Francisco e de seu irmão António, sendo essa eventual transcrição ou certidão, por sua vez copiada ou transmitida nos dois ramos familiares.

    Na convicção de que o cavalo era branco, admiti que o Rei d'Armas, possivelmente no intuito de exprimir as suas dúvidas de que o agraciado descendesse efectivamente dos Tavares da antiga linhagem, se teria inspirado no brasão de Sintra. E foi nessa convicção que no 'fórum' do então Genea Portugal, abri o tópico “Timbre de Tavares” que pode ser visto em
    http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=49834#lista
    e de que, por comodidade, reproduzo a 3ª mensagem:

    1 - No “Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas” de António Godinho, o timbre de Tavares é pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro.
    Só que isto não encerra a questão.
    (O que segue é quase integramente citado de Anselmo Braamcamp Freire, ainda que truncado e completado por elementos de ligação que dão sentido às citações)
    2 - Antes do livro de António Godinho, existiram dois, o “ Livro antigo dos Reis d’Armas” e o “Livo do Armeiro-Mor” - que não tinham timbres - ambos mandados fazer por D. Manuel que foi quem cuidou em estabelecer certas regras e acabar com o arbítrio no uso das armas.
    3 - Apesar das acuradas investigações, reconheceu-se que ao livro de António Rodrigues, “Livro do Armeiro-Mor” ou “Livro Grande” faltava a perfeição. Para remediar isto encarregou D. Manuel a António Godinho, escrivão da câmara, de emendar os erros contra as regras da armaria cometidos, e de acrescentar o que necessário fosse, principalmente os timbres, a cada uma das linhagens.
    (Principalmente os timbres).
    4 - Começou António Godinho o seu livro ainda no reinado de D. Manuel e há folhas em que se pode precisar o tempo em que foram iluminadas. A sétima, no verso e toda a oitava, feitas entre 9 de Setembro de 1516 e 7 de Março de 1517.
    (Ainda muito longe dos Tavares).
    E terá terminado a sua obra depois de 1528, e antes de 1541.
    5 - A Sala dos Brasões, ou dos Veados, ou das Pegas, no Paço de Sintra, foi igualmente mandada fazer por D. Manuel havendo a certeza de ter sido pintado o tecto entre 1515 e 1520, muito provavelmente no ano de 1517 a 1518, entre a segunda viuvez de D. Manuel e o seu terceiro casamento. E, para os brasões dos veados, serviu de modelo o Livro de António Godinho e não os anteriores que não tinham timbres.
    (Aqui terminou a exclusividade das citações)
    6 - Há assim toda a probabilidade da pintura do brasão dos Tavares em Sintra, ter precedido de alguns anos, a iluminura no livro de António Godinho. Mas em Sintra, o timbre de Tavares é um cavalo branco, de sua côr, nascente, bridado de oiro.
    7 - Ao arrepio do que um leigo imaginaria - por identificação de armaria com cavalaria - poucas são as linhagens que têm cavalos nos timbres: Portocarrero (cavalo nascente de oiro, bridado e enfreiado de azul); Severim (cavalo nascente de vermelho); os que descendem de Jorge Dias Cabral (pescoço e cabeça de cavalo de prata, bridado de vermelho e oiro, com quatro lançadas em sangue, que também goteja da boca); Tavares, acima descrito em 1; finalmente os Duques de Bragança, seguidos pelos de Cadaval, pelos Faros e não sei se por mais alguma Casa neles originada, que têm timbre idêntico ao dos Tavares, pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro. Outros haverá mas posteriores pelo que para aqui não interessam.
    8 - Também não se conhecem muitas excepções a este timbre de Tavares: Braamcamp Freire, cita uma C.B.A. de 1534 (cavalo selado, nascente, de vermelho, bridado de oiro) e, estranhamente, esquece Sintra que ele próprio descreve; Monarchia Lusitana, Nobiliarquia Portuguesa, C.B.A. de 1788 (cavalo nascente de vermelho, bridado de oiro); e eu, C.B.A. de 1802 (cavalo branco nascente, selado e com freio de oiro), ou seja, a versão de Sintra acrescentada da sela.
    9 - A importância social e política do primeiro duque de Bragança é desmesurada não permitindo qualquer tipo de comparação com os Tavares que, contudo, levam de antiguidade aos Braganças “grosso modo” dois séculos e meio. Quer dizer que, não fazendo qualquer sentido ir o duque buscar o timbre aos Tavares, já um qualquer Tavares se engrandeceria adoptando o timbre dos Braganças.
    (O que imediatamente segue apenas deve ser lido por pessoas não inteiramente desprovidas de sentido de humor).
    A não ser que afinal o Barbação fosse Tavares e D. Afonso quisesse honrar o avô.
    10 - O que poderia ter levado António Godinho a, depois de com base nos seus estudos, se ter pintado Sintra, iluminar o brasão dos Tavares com o timbre dos Braganças, sendo certo que outros timbres seriam usados por Tavares, pelo menos o de Sintra, provavelmente o de 1534 referido por Braamcamp Freire, possivelmente ainda mais?
    (O que segue é pura especulação, sem base histórica, mas, na minha óptica, não deixa de constituir uma hipótese interessante)
    11 - António Godinho, escrivão da câmara, escrivão da côrte, ou escrivão da câmara e do desembargo do paço, não nos dá, nem de forma aproximada, a verdadeira dimensão e importância da personagem que, além de Castelo Branco e da primeira nobreza do reino, foi um dos cerca de vinte fidalgos que asseguravam a segurança de D. Manuel e pernoitavam na sua antecâmara.
    Contudo, após a morte do Rei em 13 de Dezembro de 1521, perdido o acesso informal ao Soberano, terá igualmente perdido muita da sua importância.
    12 - Dou como certo que o pescoço e cabeça de cavalo de vermelho não seria o timbre dos Tavares nem sequer o da maioria destes pois, se assim fosse, lá teria D. Afonso de Bragança ido buscar-lhes o timbre. Também não considero que entre 1442, atribuição do senhorio de Bragança com o título de Duque, e 1541, última possível data de acabamento do Livro de António Godinho, tivessem os Tavares ou a maioria deles adoptado o timbre dos Braganças, pois Sintra e a C.B.A. de 1534 vão contra essa improvável hipótese.
    13 - Por outro lado, algum Tavares usaria o pescoço e cabeça de vermelho pois, se nenhum usasse, não faria sentido atribuir-lha e, além do mais, constituiria ofensa gratuita aos Braganças. Aliás, tenho para mim que a atribuição do timbre dos Braganças aos Tavares nunca terá sido feita contra aqueles mas antes com o seu beneplácito, porventura por sua influência.
    14 - O que considero mais provável ter acontecido é que um determinado Tavares, com alguma ligação aos Braganças - aqui as hipóteses são inúmeras, desde o serviço da Casa ao acompanhamento de D. Afonso ao cerco de Ceuta - tenha, com sua autorização ou por sua mercê, adoptado o seu timbre. E que, morto D. Manuel, António Godinho tenha sido permeável a um pedido ou do próprio, eventualmente seu antigo companheiro na Guarda do Rei ou do Duque - D. Jaime ou D. Teodósio - que poderia querer perpetuar eventual mercê de um seu antecessor, concedida antes de D. Manuel mandar estabelecer regras no uso dos timbres.
    15 - Daqui concluindo eu que, com excepção de estirpe que descenda do eventual Tavares que primeiro usou o timbre dos Braganças, a todos os outros a quem foi passada C.B.A. e que não fossem armas novas, teria sido mais correcta a atribuição do cavalo nascente. E que, no desconhecimento histórico e genealógico dessa particular estirpe, a todos os Tavares deveria ter sido atribuído o cavalo nascente.
    16 - Alguns Reis d’Armas foram particularmente ignorantes mas a grande maioria conhecia o seu ofício e é impensável admitir que um Rei d’Armas Portugal no séc. XIX desconhecesse a Sala dos Brasões de Sintra. Por isso acho mais provável que o timbre da C.B.A. de 1802, concedida ao desembargador Francisco Tavares de Almeida, não tenha sido um erro mas uma opção, apesar do “Livro da Perfeiçam das Armas”. E, por simples curiosidade, gostaria de saber se algum Rei d’Armas anterior terá exercido idêntica opção ou se Manuel Joze Gonçalves foi inovador.

    Termino renovando o meu pedido de que, se algum leitor tiver conhecimento de alguma Carta de Brasão d’Armas com timbre de Tavares, diferente do pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro, me faça chegar esse conhecimento.
    Claro que ainda mais agradeço explicação para a identidade dos timbres dos Braganças e dos Tavares porque nunca vi tal facto tratado nem comentado.

    Antecipadamente grato,

    Francisco Tavares de Almeida


    Só muito recentemente, pretendendo organizar o meu próprio arquivo familiar, pedi fotocópia da Carta d'Armas – e do processo de justificação – e constatei, com a surpresa que se poderá imaginar, que o cavalo era afinal vermelho. E, como é vulgar ocorrer nestes casos, só 'a posteriori' consciencializei que não só isso era o mais lógico, como haviam motivos que me deviam ter levado a mais cedo consultar o documento original. De facto o cavalo heráldico é habitualmente de sua cor e esta, sendo castanho, terá a representação heráldica no esmalte vermelho (goles) ou na madeira sanguinho (cor de sangue). Há poucos cavalos heráldicos em metais, muito raramente ouro, menos raramente prata, que poderia ser a representação de um baio mas seriam representações de particularidades e, como tal, seriam conhecidas.

    Ficou assim como única 'carta fora do baralho' o cavalo branco de Sintra. Ora o meu amigo arq. Segismundo Pinto, grande heraldista, já me havia chamado a atenção para diversos restauros no tecto da Sala dos Veados, efectuados sem a necessária supervisão e de que resultaram erros já bem identificados pelo que estou agora em crer que inicialmente o cavalo de Sintra seria também vermelho. A favor desta convicção o texto de Braamcamp Freire cavalo branco, de sua côr, nascente, bridado de oiro em que, de duas uma: ou o cavalo era bem branco e de sua côr não faz sentido, ou o cavalo era mesmo – em peça já escrita – de sua cor e o branco foi posteriormente acrescentado para adequar à realidade.
    Também em nada me admiraria que num restauro se tivesse efectivamente perdido a sela mas, como igualmente falta na CBA de 1788 ou, pelo menos, na transcrição que dela vi, fica a dúvida em aberto. Agora o que de forma alguma admito, é que originalmente fosse uma cabeça de cavalo e, num restauro, tivesse sido substituída por um cavalo nascente. Se alguma tendência existiria nos restauros, seria sempre no sentido da simplificação; ora se o desenho de um pescoço e cabeça de cavalo não oferece grande dificuldade – bastaria uma vulgar peça de xadrez como modelo – já o cavalo nascente mantendo a proporção natural e heráldica, não está ao alcance de qualquer um.

    Quanto à hipótese que há muito formulei e divulguei no referido 'fórum' em 2003, foi recentemente reforçada, mais uma vez graças ao arq. Segismundo Pinto que me deu conhecimento de uma Carta d'Armas inédita de 1523, actualmente na posse de particulares nos Açores, que será a mais antiga com o timbre de Tavares e que tem já a cabeça de cavalo. Se como admito, algum Tavares portador desse timbre dos Bragança conseguiu a sua 'oficialização' na iluminura de António Godinho, por maioria de razão pediria armas e 1523, dois anos após a morte de D. Manuel I, está bem adequado no tempo.

    Convirá talvez referir que Cartas d'Armas eram normalmente pedidas por recém enobrecidos, por filhos segundos que tiveram o seu foro acrescentado na Casa Real ou por outros fidalgos que, tendo ou querendo estabelecer-se em terra diferente da sua origem, dela necessitavam para obter isenções e direitos – como o acesso à governança – quase como se fosse um passaporte. Mas a grande maioria da nobreza não pedia armas, usava-as; na província, armas eram colocadas em frontarias de casas, em sepulturas e capelas sem qualquer registo ou autorização. Deste facto há inúmera corroboração por esse país fora mas, restringindo-me aos Tavares, evidencia-se desde logo o brasão da Torre Amarela, parte de um solar emblemático da cidade de Portalegre e onde se podem ver as armas dos Tavares com o cavalo nascente por timbre; este solar, da família Rombo Tavares terá sido construído mais de um século depois do livro de António Godinho. De construção mais recente, encontra-se em Nelas, no portão de uma Casa que pertenceu à família Cândido Tavares, um esquartelado tendo o cavalo nascente – a que leigos chamam meio cavalo – por timbre.

    Que, por motivos económicos ou já culturais, a nobreza de província não pedia armas, recorrendo inclusivé a outros meios para provar o seu uso, é expressivamente ilustrado por um requerimento de 1756, pouco depois do terramoto:

    Diz Dona Maria Josefa de a Fonseca Cravalhal e Tavora moradora na Villa de Veiros que para justo Requerimento lhe he preciso certidão do escudo de Armas dos Tavares desta cidade que se acha esculpido em hum dos cunhais nas cazas de seu Irmão Pedro Rombo Tavares declarandoce o Timbre do dito escudo o numero das estrelas e quantas pontas tem cada huma

    P A v mce se digne mandar ao Escrivão a que pertencer pase a referida certidão na forma que se requer e o es/tillo para que fasa fée

    Francisco Xavier de Souza e Gusmão Tabeliam publico de nottas em esta cidade de Portalegre e seu termo por Sua Magestade que Deos guarde; certefico que as armas que se achão em huma pedra de cunhal das cazas de Pedro Rombo Tavares da parte da Sé tem no escudo sinco estrellas postas em aspa de seis pontas cada huma: e por timbre meyo cavallo sellado, e enfreado, e á vista das mesmas armas passey a prezente que assi/gney em publico, e […] Sinaes de que uso, e me reporto ao ditto brazão em o referido cunhal. Portalegre onze de Mayo de mil sete centos e sincoenta e seis annos Eu Francisco Xavier de Souza e Gusmão o sub escrevy e asigney
    Em testemunho [sinal] De verdade Francisco de Souza e Gusmão.


    Tendo este quadro presente, voltemos agora a 1802. Estava-se já num período de baixos conhecimentos heráldicos – pioraria, e bastante, mais tarde – e de muito pouco rigor na atribuição de armas de sucessão. Era muitissimo vulgar que se atribuissem armas das famílias cujos apelidos fossem os do agraciado, de pais ou avós e ultrapassada a moda dos esquartelados – que terá tido o seu auge logo a seguir ao terramoto – talvez os partidos fossem a composição mais corrente. Era necessário um processo de justificação de nobreza com inquirição de testemunhas e despacho de desembargador, mas apenas se pretendia provar que pais e avós paternos do agraciado viviam à lei da nobreza e nada se perguntava pela origem familiar, presumindo-se que o uso dos respectivos apelidos provava a descendência das antigas linhagens. O brasão concedido ao desembargador Francisco Tavares de Almeida não foi excepção. Entre os cargos por este desempenhados, fôra Auditor do Estado-Maior da Guarda Real de Polícia e as testemunhas do processo foram oficiais dessa Guarda que, se foram explícitos quanto aos sinais exteriores de riqueza de pais e avós paternos, declararam nada mais conhecer, nem sequer os avós maternos. A falta de rigor foi de tal ordem que ficou errado o nome da avó materna e, tendo sido pedidas armas de Tavares e Almeidas, nenhuma objecção foi levantada por tais apelidos não terem sido usados por nenhum dos avós.

    Na realidade os avós paternos eram Gaspar Mendes Castanho e D. Catarina Henriques Moreno e se de facto ele foi comerciante de grosso trato, administrador de um vínculo e de uma capela, filho de António Tavares de Almeida e neto de João Tavares de Almeida, o certo é que nada disto foi levado ao processo, onde apenas se vê ter vivido à lei da nobreza com cavalos e creados – não se mencionam os escravos, que igualmente possuiu – e que as senhoras mãe e avó do peticionário, se deslocavam habitualmente de carruagem.

    Além da falta de rigor, creio que também existiria uma certa permissividade ou talvez uma ampla latitude extra-processual. Tenho um antepassado também armigerado por esta época que fez toda a sua vida como Aniceto António Ferreira e que apenas passou o Ferreira aos seus descendentes mas que recebeu um partido de Álvares e Mendes, sendo então identificado como Aniceto António Ferreira Álvares Mendes. O Mendes é mitocondrial e sem que tenha até agora neles encontrado indícios de fidalguia; e o Álvares é Alves nos paroquiais, tendo sido usado pelo pai e pelo avô materno deste. Neste caso a minha aposta é de que, em Nelas, termo de Senhorim, de que era originário, toda a gente saberia que os Ferreira não seriam fidalgos pelo que não pediu armas de Ferreira e ajeitou o popular Alves num mais erudito Álvares.

    Mas Aniceto Ferreira, se o que suspeito é certo, demonstrou alguma consideração pela opinião pública, enquanto Francisco Tavares de Almeida apenas mostrou não dar grande importância ao processo. De facto, sendo jurista e por isso dele se esperando algum rigor, deixou a avó com o nome trocado e nem se preocupou em indicar o bisavô Tavares de Almeida o que nem poderia ser por desconhecimento pois o seu sobrinho, tendo necessidade de requerer algo relacionado com o vínculo, mostrou conhecer até mais do que isso.

    Mas a questão que se põe é: sendo o “Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas” a 'Bíblia' dos Reis d'Armas e não se vendo que o peticionário estivesse grandemente preocupado com pormenores, porque lhe teria Manuel Jose Gonçalves atribuído o timbre antigo?

    Ao contrário do que primeiro pensava, influenciado pelo erro na cor do cavalo, não seria por inspiração do brasão de Sintra; nem pelo de 1788, pois nem num nem noutro se encontra a sela. Por outro lado nenhum sentido faria reportar ao brasão do longínquo ano de 1534. Assim, a única explicação que encontro – nem muito improvável e até respeitadora de Occam – é que, num quadro informal e permissivo, Francisco Tavares de Almeida tivesse mostrado ao Rei d'Armas um desenho, um bordado, sei lá, mas em que o timbre era o cavalo nascente.

    A questão que imediatamente se segue, é decidir qual a probabilidade do desembargador Francisco Tavares de Almeida deter uma qualquer representação do brasão com o timbre antigo sem que fosse efectivamente descendente. É certo que poderia ter adquirido uma peça, por exemplo de porcelana, como poderia ter mandado desenhar, mas tudo isto parece em desacordo com o pouco interesse que demonstrou no processo. E, se poderia ter conhecido o portão dos Cândido Tavares em Nelas, pois estudou em Coimbra, duvido que tivesse visto a Torre Amarela, pois fez toda a sua vida profissional em Lisboa e arredores e esteve depois no Brasil de onde novamente regressou para Lisboa e Almada.

    Por tudo, consciente do risco de estar a concluir pelo que me seria mais agradável, entendo que o mais provável, é que os Tavares de Almeida descendam efectivamente da antiga linhagem de Tavares, o que, por motivos melhor explicados noutro lado, implica igualmente a muito provável descendência de Almeidas de antiga linhagem.
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