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MAUCHART
História
- Alguma genealogia para além das 3 datas e locais.
Originariamente de Göppingen, Hans Maucher, filho de Jakob e Anna, nascido cerca de 1558, transferiu-se para Esslingen onde mudou o nome para Mauchart, quase certamente por motivos religiosos pois é luterano enquanto os Maucher continuaram católicos.
Teria algum capital pois casou com uma viúva com algum de seu e logo foi admitido - não era barato - como burguês (Bürger)(1) da cidade em 1578, onde igualmente apresentou as suas armas(2).
Em 1579 foi a Itália receber uma herança do primeiro marido de sua mulher e estabeleceu-se como comerciante começando então a adquirir algumas propriedades, na generalidade documentadas(4) e em que se incluem algumas vinhas.
Hans Mauchart morreria muito cedo, em 3 de Novembro de 1585, com 27 anos de idade. Viúva pela segunda vez, Apollonia Koch casou terceira vez em 1588 com Anshelm Helbling.
Pode-se concluir que Hans Mauchart, certamente beneficiando do capital de sua mulher - em Itália vendera as propriedades que constituíam a herança - geriu bem a sua curta actividade comercial pois o filho Jakob, nascido em 14 de Junho de 1579, herdou as vinhas e a casa de Hafenmarkt e ainda teria capital para adquirir o terreno ao lado e efectuar importantes obras iniciadas em 1599 e que ainda decorriam nos finais de 1600. E, se suas irmãs Susanne e Agnes morreram novas, outra irmã, Anna Barbara, morreu em 1629 em Stuttgart, onde vivia casada, enquanto o seu irmão mais novo, Johann, se estabeleceu como comerciante em Heilbronn e concerteza também herdou e teve algum sucesso pois pediu armas de família apesar de só ter filhas.
Jakob Mauchart, casou em Esslingen a 9 de Novembro de 1600(5), quando ainda decorriam as obras em Hafenmarkt, com Anna Bunz, de uma família de Ebersbach a.d. Fils, hoje integrada no 'Landkreis' Göppingen mas então ligada a Esslingen por laços económicos. Anna Bunz faleceu em 3 de Setembro de 1632 e Jakob voltaria a casar menos de um ano depois com uma viúva, morrendo ambos pouco depois.
Do primeiro casamento nasceram dez filhos, dos quais seis atingiram a idade adulta e cinco casaram.
Destes, a mais velha, Maria, casou com Christoph Vetterlen e foi viver para Cannstatt. Apollonia, casou com Christoph Dilzinger e nada mais sei, pelo que também não ficou em Esslingen.
Dos filhos, o mais velho, Johann Martin, estudou teologia na universidade de Tübingen onde obteve o grau de 'Magister' e seguiu a carreira eclesiástica, tendo-se fixado como pastor 'Pfarrer' em Mohringen(6); casou duas vezes, a primeira em 1633 com Sabine Keller, de uma conhecida família de que também descendo, e que terá morrido pouco depois pois volta a casar com outra Sabine, já viúva e que lhe deu seis filhos, dos quais três com descendência.
Outro, Jakob, casou no final de 1633 em Vaihingen a.d. Enz, onde morreu pouco depois sem descendência.
O mais novo, Johannes, foi também para Vaihingen, onde viria a falecer ainda solteiro.
Finalmente David - de longe um dos meus antepassados preferidos - nasceu em Esslingen em 16 de Junho de 1610, herdou a casa de Hafenmarkt e foi comerciante, conselheiro e burgomestre de Esslingen e aí morreu em 28 de Maio de 1676, portanto com perto de 66 anos.
Tem um epitáfio na Igreja de Nª Sª em Esslingen. Ainda existe a sua oração fúnebre(7) que contém informação que ele próprio registara na sua Bíblia, uma nova que adquiriu pois já não utilizou a de seu pai.
Assim se sabe que frequentou em Esslingen as escolas de alemão e latim; em 1622 foi para Heilbronn aprender comércio com o tio paterno Johann e em 1626 já estava activo no comércio com o seu pai. Paralelamente estudou (escrita e direito administrativo) com o escrivão municipal Lorenz Datt.
Como preparação comercial, visitou as feiras de Frankfurt e Strassburg mas devido às dificuldades de seu pai em consequência da guerra dos Trinta Anos, concorreu e obteve o emprego de escrivão municipal em Denkendorf 1631-1634 e em 1635 escrivão do tribunal em Esslingen. Ainda nesse ano, na sequência da morte do pai, instalou na Casa Mauchart um negócio que incluía o comércio de vinhos.
Na sua vida pública em 1637 integrou o Conselho geral, em 1638 foi recebedor de impostos na categoria inferior, em 1639 integrou o Conselho restrito, em 1640 presidiu à câmara de comércio; desde 1647 foi administrador financeiro, em 1655, passou à categoria intermédia da recolha de impostos e em 1658 à categoria, superior sendo então nomeado conselheiro privado; em 1663-1667 foi bailio municipal (administrador dos bens da cidade), em 1667 vereador e conselheiro privado do Hospital, e em 1668 o principal 'Kastenvogt'(8). Em 1668/69, 70/71 e 73/74 foi Burgomestre e em três destes anos também 'Kastenvogt' e 'Hospitalvogt'.
Gozava de grande prestígio(9).
Excerto dos seus registos:
No ano de 1635 ... ... houve tal fome e pestilência que mais de 8.000 pessoas morreram(10) ... ... Eu, David Mauchart, diminuído pela doença entrego-me nas mãos e misericórdia de Deus por cujas mãos e misericórdia recebi a vida.
Sofreram esta terrível morte o meu pai, a minha madrasta e irmãs, a minha irmã Maria e o marido em Cannstatt, Christoph Vetterlen, os meus irmãos Jakob e Johannes em Vaihingen Enz, também a minha irmã Anna Margarethe; da família de minha mulher Margarethe Morsh, o pai, a mãe, dois irmãos, Dionysius e Bonaventura igualmente faleceram. Que Deus Todo Poderoso lhes conceda uma feliz ressureição e a mim uma morte razoavelmente tardia, em nome de Jesus Cristo Amen.
David casara em 18 de Julho de 1636 - com a habitual idade de 26 anos - com Margarethe Morsh, de uma família de Esslingen e teve quatro filhas, Anna Barbara, Anna Catharina, Anna Margarethe e Anna Maria, que morreria com ano e meio. Anna Barbara e Anna Margaretha casariam ambas com juristas, a primeira com o Dr. jur. Adam Ulrich Schmidlin, que viria a atingir uma alta posição na administração em Stuttgart, sendo ainda arquivista e antiquário; a segunda com o licenciado em direito e em teologia Johann Caspart que pertenceu ao conselho restrito da cidade e foi também administrador financeiro e administrador florestal. Anna Catharina, a minha antepassada, herdou a casa de Hafenmarkt que levaria para a família Palm pelo seu casamento em 26 de Junho de 1656 com Johann Heinrich von Palm, representante imperial e curador em Esslingen.
Tiveram 17 filhos mas só 7 atingiram a idade de casamento; os três varões foram depois elevados a cavaleiros e depois barões do império; o mais velho, que reverteu ao catolicismo e exerceu altos cargos na côrte imperial em Viena teve a sua descendência elevada a condes e depois a príncipes do império.
Notas
- (1) Embora a tradução literal de 'Bürger', seja 'burguês' ou, seguindo a cultura anglo-americana, 'cidadão', seria mais aproximado 'munícipe' e muito mais expressivo 'homem bom' tendo presente que os direitos dos 'Bürgers' sobretudo nas 'Cidades Livres' eram muito mais desenvolvidos do que os derivados de qualquer Foro outorgado pelos nossos Reis.
Há mesmo historiadores que defendem que, na Alemanha, sobretudo na Suábia, não é consistente a clássica divisão social em Clero, Nobreza e Povo sendo imprescindível uma quarta categoria, a dos 'Bürgers'.
(2) Seriam Maucher pois um neto veio depois a obter Carta (Brief) para Mauchart.
(3) Simon "der Welsche" von Stein (ou Stain).
(4) Destas merece especial destaque a casa de Hafenmarkt Nº 1 (Mercado da Olaria), uma construção do séc XIV ampliada a partir de 1599, quando a casa ao lado se desmoronou e novamente ampliada no séc. XVIII, já então da família Palm em cuja posse se manteve até ao século passado, quando constituíram uma sociedade anónima de exploração turística que detém a sua propriedade. Tem 4 andares, ostenta o brasão dos Palm no segundo e é hoje um edifício de referência da cidade de Esslingen.
(5) Tinha 21 anos e 5 meses, o que seria muito cedo pelos padrões culturais da classe em que se inseria mas há que lembrar que estava orfão de pai desde 1585 e que a mãe voltara a casar em 1588.
(6) Localidade que apesar de distante pertencia à cidade de Esslingen que a tinha adquirido e nomeava os seus principais, na realidade como se fosse um feudo.
(7) Estas orações fúnebres, lidas algum tempo depois da morte - em raros casos dois e três anos depois - em cerimónia solene em que se elencavam os familiares e notáveis presentes, eram preparadas por um letrado, em geral religioso e normalmente com alguma relação com a família. Conservam-se em grande número em diversas bibliotecas mas, sobretudo na Landesbibliothek em Stuttgart e constituem verdadeiros tesouros de informação genealógica e biográfica.
(8) Nem um alemão me soube traduzir 'Kastenvogt' que terá há muito caído em desuso. Era certamente uma alta responsabilidade financeira ligada a fundos de previdência ou militares. Note-se que, como Cidade Livre, Esslingen possuía exército territorial e no séc. XV derrotou militarmente por 2 vezes Ulrich V, conde soberano de Württemberg-Urach.
(9) As Cidades Livres ou Imperiais apenas dependiam do Imperador numa dependência às vezes quase nominal. Na prática funcionavam como quase-repúblicas e se os seus territórios eram diminutos a importância económica e a influência na política imperial eram enormes. Ser conselheiro ou burgomestre numa destas cidades era o topo da escala social e, no caso de Augsburg, sede de diversas casas bancárias importantíssimas - Fugger, Welser etc. - o burgomestre não seria menos do que um Doge de Veneza.
(10) A fome e peste de 1634/35 que atingiram toda a Suábia em consequência da Guerra dos Trinta Anos foi terrível. Em todas as minhas linhas do Württemberg tenho mortes nestes anos e um antepassado, pastor luterano, efectuou mais de 2 mil sermões fúnebres em menos de 2 anos. Em particular na sequência da batalha de Nördlingen, toda a região foi saqueada por bandos de tropas descomandadas de ambos lados, evidenciando-se pela brutalidade os croatas pelos católicos e os suecos pelos protestantes.
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