"16 apontamentos" - Última inclusão: ITA DE METZ (Séc. XI)
Página Inicial | Contacto
 

Fontes
As citadas na História.
*Quatro* Balthasar Moser
História
  • Navegando pela BD deparei com 4 Balthasar Moser, *igualinhos*, sem datas, sem biografias e sem fontes, bisavô, avô, pai e filho, este último pai de Valentin Moser von Filseck. São estes Moser o fim da linha de varonia dos condes de Moser e também meus antepassados. O mais antigo seria "rittmeister" em 1443 (como mestre equitador ou semelhante não faz sentido na época traduziria livremente por capitão de cavalos) e documenta-se ainda como "stallmeister" ("stall" tem a mesma raiz do "stallion" inglês e as funções não difeririam das do "head groom" tendo em conta que o 'patrão' era um conde soberano e não um mero "squire"). Também se documenta como "marstaller" (seguindo também o 'Armorial Lusitano' traduzo por estribeiro-mór, com muitas dúvidas no mór) e "Kriegsrat". "Krieg" é guerra e "Rat" conselheiro mas não se trata de um militar "soldat" como poderia ter sido um "rittmeister" mas de um "beamter" que traduziria livremente por funcionário público; de facto "Rat" é uma categoria acima do "Schreiber" escrivão e se a sua área fosse financeira ou de justiça, seria um "Finanzrat" ou um "Justizrat". E também não seria o nosso conselheiro pois esse seria talvez o "Hofgeheimerrat" conselheiro privado (de um príncipe não de um município). Este "Stallmeister und Kriegsrat" é o Balthasar I e porque Ludwig V, conde de Württemberg-Stuttgart só morreu em 1480, apenas o deve ter servido a ele.
  • O Balthasar II é mencionado como "Marstaller" ainda no tempo de Ulrich V. É depois "Kammerrat" do Württemberg, dado importante para fixar a sua cronologia pois o condado do Württemberg foi dividido pelos condes Ludwig que ficou com Württemberg-Urach e Ulrich V com Württemberg-Stuttgart. Só após a morte de Ulrich V, por acordo, o Württemberg seria novamente reunido com o conde Eberhard im Bart ou Eberhard V até aí conde de Württemberg-Urach por sucessão de seu pai e morte prematura de seu irmão, ambos Ludwig. Foi este conde Eberhard V um dirigente notável e conseguiu do imperador a aprovação do acordo de indivisibilidade ou seja a fixação do Württemberg como Estado, sendo elevado a Duque em 1495, portanto Duque Eberhard I ou Eberhard V-I como alguns o identificam. Mas logo em 1496 foi deposto por seu primo também Eberhard, filho de Ulrich V que apenas esteve no poder dois anos, 1496-1498 como Duque Eberhard II; Eberhard II foi por sua vez deposto, sucedendo-lhe um sobrinho Ulrich que com vicissitudes, deposições e exílios, acabou por ser Duque do Württemberg de 1498 a 1550.
  • O "Marstaller" sem tradução actual que conheça, teria funções de estribeiro-mór mas com características aparentemente incompatíveis pois se a categoria era certamente superior a "Stallmeister" por outro lado podiam coexistir mais do que um desde que em diferentes cidades. Mas a importância do cargo levava os seus detentores a abandonar o apelido e usar apenas Marstaller como aconteceu não apenas com estes Moser e é origem do apelido que ainda hoje existe em famílias sem ligação entre si.
  • Há um Balthasar Marstaller mencionado em 22.5.1496 ou seja, com o Duque Eberhard II e que só pode ser o Balthasar II que já assim o era com Ulrich V e teria continuado com o filho; é provável que este, quando acedeu ao Ducado o tivesse nomeado "Kammerrat" mas não se conhece a data da nomeação. Também um Balthasar Marstaller se documenta desde 25.7.1506 e até 28.10.1512 já com o Duque Ulrich.
  • O Balthasar III está bem documentado pois nasce em Stuttgart a 15.6.1487, em 1511 é escrivão da chancelaria ou talvez melhor, do almoxarifado (Kanzleischreiber) 1515-1518 escrivão municipal (Stadtschreiber) em Urach, 1518-1525 "Vogt" (outro cargo de difícil equivalência pois seria um funcionário nomeado com funções de vereador e/ou de 'Maiordomo' - os ingleses traduzem redutoramente por "Steward" - juiz de paz e possivelmente outras pois aparecem "Vogts" promovidos à magistratura judicial, outros ao que hoje chamaríamos registos e cadastro, outros à área financeira. Há já dois importantes dados a reter:
    1º diferentemente dos anteriores não se vê que a carreira deste Balthasar III possa ter alguma coisa a ver com cavalos;
    2º foi nomeado "Vogt" em Herrenberg ainda como Balthasar Marstaller e só mais tarde, na nomeação a tesoureiro "Rentkammerrat" aparece como Balthasar Moser.
  • Não havendo qualquer ligação documental entre estes Balthasar III, II e I, a sua relação filho-pai-avô consta de umas 'tábuas genealógicas' ou 'tabelas' de Bernhard Unfried, em 1629, 1633 e 1634 (só na de 1634 seria identificada a mulher de Balthasar I, Barbara Lenser); Unfried, como cuidadosamente explicita, baseou-se na autoridade de Oswald Gabelkofer, famoso médico, historiador, bibliotecário e arquivista, falecido em 1616.
  • "Tabelle Unfrieds von 1634: Nam D. Osvaldus Gabelchoverus olim quatuor ex ordine Ducum Wirteb. Medicus, Historiographus item ac Bibliothecarius vir rerum harum scientissimus, illius parentes primus prodidit et nominatim appellavit Balthasarum Marstallerum, eo nomine primum, hujus que comparem, Barbaram Lenserin."
  • Gabelkofer não os interrelacionou mas a análise é linear: todos Marstaller em Stuttgart, onde não aparecem outros, com o mesmo nome próprio e cronologias sequenciais sem sobressaltos.
  • Esta sequência de apenas 3 Balthasar Moser foi seguida em tudo o que depois se escreveu, "Fama Andreana ..." de 1630, genealogia de Johann Jakob Moser (1701-1785) e "Geschichte der Moser von Filseck" manuscrito do investigador Friedrich Bauser, depois prefaciado pelo diplomata Carl Moser von Filseck e publicada em Stuttgart em 1911.
  • Só recentemente, apareceu na Net, creio que pela 1ª vez em 'Worldroots.com' o 'desdobramento' do Balthasar II em pai e filho. Ou seja, aproveitando uma referência de 1477, fizeram o Balthasar II burguês de Stuttgart - que certamente o foi até por inerência - e porque teria morrido em 1497, logo a seguir à menção de 1496 que já não se percebe se seria dele se de um Balthasar III a quem atribuem as de 1506-1512, e por sua vez pai de um Balthasar IV então em início de carreira.
  • Ora Balthasar II casou com Magdalene Haug, filha de Johann Haug, burgomestre de Stuttgart, de quem teve 7 filhos mas apenas 3 filhas atingiram a maioridade, sendo todas freiras em diferentes conventos. Viúvo, voltou a casar com Margarethe Reich, de Esslingen, também já viúva de Nikolaus Fünfer e de quem teve Anna, falecida em 1547 e que foi Prioreza do Mosteiro de Weiler, perto de Esslingen e o Balthasar III.
    O que se fez em 'Worldroots.com' - estou certo que por distracção pois, noutras páginas, tem citações de fontes e excertos de documentos, por exemplo, atribuindo clarissimamente os dois casamentos ao mesmo Balthasar II - foi fazer o Balthasar III filho de Magdalene Haug e casá-lo depois com Margarethe Reich, pais que seriam de um Balthasar IV que nunca existiu ou melhor, que existiria sim mas numa geração abaixo, irmão do Valentin Moser von Filseck. Fizeram-no assim filho da 1ª mulher do pai e casado com a mãe!
Armas
  • Os "quatro" não as teriam. Johann Jakob nunca as usou.
Notas
  • SOBRE O RIGOR

  • Com rigor extremo, a genealogia da Família Moser von Filseck iniciar-se-ia com o Balthasar III (1487-1552) e, na sua página e não em páginas próprias, anotar-se-ia o que respeita aos Balthasar II e I. Isto porque não há documentos que efectivamente os relacionem. Por outro lado, se fosse esse o critério de rigor quase não existiria genealogia medieval e, com excepção da alta nobreza e mais meia dúzia de linhagens, a grande maioria teria o seu início nos sécs XVI-XVII ou seja, não seriam medievais. Esta linhagem Moser baseia-se numas tábuas genealógicas de 1629-1634 elaboradas sob a autoridade de um reconhecido historiador falecido em 1616 e que, como "Hof-Registrator" teve acesso a todos os documentos relevantes. Por exemplo, autorizações de pagamento eram registadas, e embora só tenham chegado aos nossos dias poucos fragmentos de informação, é natural que ainda estivessem acessíveis e legíveis 100 anos depois.

  • SOBRE A CRONOLOGIA

  • A data sobre a qual se deve ancorar a cronologia é o nascimento de Balthasar III em 1487 pois, se o Balthasar I era "Rittmeister" em 1443 não se pode saber se teria 25 se 45 anos e algumas referências a Balthasar Marstaller, tanto poderiam ser ao I como ao II e até ao III. A partir de 1487, utilizando valores médios para idade de casamento e expectativas de vida, e idades possíveis/prováveis para o exercício de cargos, propõem-se as cronologias. Não vou aqui repetir esse exercício mas, como conclusões e como limites, são possíveis duas: uma a que chamo longa e que parece "estar na moda" faz o Balthasar I a nascer por 1400; outra que chamo curta, fá-lo a nascer por 1414 mas não depois de 1418. Por diversas razões, ainda que discutíveis, considero mais provável a cronologia curta.
  • Cruciais são as menções de 1497 (morte) e entre 25.7.1506 e 28.10.1512, todas referidas a Balthasar Marstaller. Na cronologia longa, 1497 não deveria ser referido ao Balthasar I já que 97 anos excede em muito a expectativa de vida na época; mesmo na cronologia curta 83 anos, é ainda muito improvável. Admitindo assim que essa data se refira ao Balthasar II as menções de 1506-1512 teriam de se referir ao Balthasar III que, como dito, nada teve a ver com cavalos; e Balthasar II teria morrido antes de 1513, quando Margarethe Reich se documenta já como viúva.
  • Guenther Todt - arquivista diplomado e conhecido genealogista - optou por situar a morte de Balthasar II em 1512-1513 o que não me parece o mais provável. De facto, sabemos que o cargo de Marstaller levou vários titulares a adoptarem-no como apelido e que Balthasar III, já escrivão na chancelaria em Stuttgart é nomeado escrivão municipal em Urach em 1515 e ainda Vogt em Herrenberg como Balthasar Marstaller só aparecendo como Balthasar Moser na nomeação para tesoureiro em Stuttgart. É assim indubitável que Balthasar III usou Balthasar Marstaller pelo menos até 1518 e até há uma razão clara para ter deixado de usar: em Herrenberg exercia um outro Marstaller e que também assim era referido. Fica assim a possibilidade das referências de 1506-1512 se referirem ao Balthasar III. Há que explicitar que essas são referências já de fonte já secundária e que se desconhecem os textos integrais - eu desconheço - pelo que, se o Balthasar II morre em 1497 nada mais natural que sejam estipulados pagamentos para assegurar os estudos do filho orfão, estudos esses que necessariamente existiram e antecederam a nomeação para escrivão na chancelaria em 1511, podendo inclusive ter continuado já depois de nomeado, o que em Stuttgart seria perfeitamente possível quer pela proximidade quer pelo grande número de outros escrivães que certamente existiriam na chancelaria.
  • Isto é o que me parece mais provável mas caso se venha a reconhecer que alguma das menções referidas não se pode referir ao Balthasar III, então fica provado Guenther Todt e Balthasar II morreu em 1512-1513 enquanto em 1497 teria morrido o Balthasar I, com 83 anos ou, no mínimo, 79.

  • SOBRE A COERÊNCIA

  • Como ciência - não discutindo aqui se o é - a genealogia é auxiliar da história. Daí um corolário infelizmente muito esquecido e um pressuposto muitas vezes ausente: as menções e documentos utilizados para construir uma genealogia devem ser compatíveis com as circunstâncias históricas; e estas devem ser conhecidas pelo genealogista. Exemplificando: se o Württemberg esteve divido em dois condados até 1480, uma nomeação para Conselheiro da Câmara do Württemberg não será anterior a 1480. Se existiram dois condes que governaram territórios diferentes Württemberg-Stuttgart e Württemberg-Urach, e ambos tiveram filhos chamados Eberhard que sucessivamente foram Duques do Württemberg, um filho de um servidor do conde de Württemberg-Stuttgart será naturalmente servidor do Eberhard filho desse mesmo conde e não do outro; e se for nomeado Conselheiro da Câmara, será quando aquele Eberhard foi o Duque e não quando o outro o foi.
    Também em governos longos, não constestados nem com guerras, são de esperar 'carreiras' mais estáveis e sucessões de cargos de pais para filhos; ao invés, em situações de ruptura dinástica são de esperar 'carreiras' mais rápidas e substituição dos funcionários da câmara (ou côrte) e em menor grau dos outros, pois o novo governante precisava, por um lado, de assegurar lealdades, por outro, de recompensar os seus apoiantes e a sua parentela.
  • Cortando linha: com o que se sabe e três Balthasar Moser o quadro é coerente; com quatro, a cronologia longa ainda é possível mas a coerência mais do que fragilizada, resulta estilhaçada; e nem se vê possível um valor intermédio que compatibilize a coerência com a 4ª geração.

  • SOBRE A CREDIBILIDADE

  • Disse-me uma vez - por e-mail pois infelizmente não o conheço pessoalmente - um grande medievalista que a credibilidade de um genealogista era a credibilidade das fontes a que tinha recorrido.
  • Ora estes 4 Balthasar Moser, "igualinhos", sem datas, sem dados biográfico e sem fontes - ignorando o nome alternativo Marstaller imprescindível para os 2 primeiros e conveniente para o 3º - parecem ter dado entrada na BD por um livreco não identificado mas que tratará da família Siemens. De facto o grande industrial Arnold von Siemens casou os três filhos na nobreza e daí que tenha tido jus à divulgação da descendência e de (alguns) antepassados, ... da mulher! Mas, com que credibilidade?
  • Por nenhuma linha vi datas ou dados biográficos e apenas presumo que não terá erros graves porque tenho parte daquela gente na minha BD e nesses não vi erros. Tratando-se de camponeses ou jornaleiros, o melhor que se consegue são o nascimento-baptizado, casamento e óbito, mas omitir circunstâncias particulares ou relevantes quando ocorrem, é fortemente redutor da genealogia, limitando-a a mero repositório de nomes, locais e datas, que nada significam para quem não for um descendente interessado, ou seja, é não só maçador como anti-pedagógico. E, neste caso, nem sequer locais nem datas, apenas nomes!
  • Vejamos agora o que foi omitido e se encontra de mais notório naqueles antepassados dos von Siemens sem qualquer pretensão de ser exaustivo pois outros haverá, designadamente nos von Mohl.

    Em primeiro lugar Jakob Andreae c.c. Anna Entringer. Jacob Andreä (1528-1590) foi professor de teologia e teve um papel preponderante na fixação da doutrina; a seguir aos fundadores, Lutero, Calvino e Zwingli, é dos nomes que logo aparece na história do protestantismo e um dos grandes vultos da cultura alemã.
    O livro que acima referi, de 1630 "Fama Andreana reflorescens ..." é exactamente em sua homenagem e trata da sua família.

    Em segundo lugar Marie Moser, c.c., Johannes Andreä (pastor protestante e conselheiro ducal, filho do anterior). Marie Moser (1550-1632) sem ter frequentado a universidade então reservada ao sexo masculino, adquiriu muito cedo avançados conhecimentos sobre medicamentos e terapêutica, sendo depois nomeada farmacêutica da côrte "Hofapothekerin" com responsabilidade do fabrico, conservação, aplicação e dosagens dos medicamentos mas também com funções de gestão assistencial que, aliás, já vinha a exercer a título particular. Aparece com destaque em qualquer lista de mulheres alemãs que se notabilizaram.

    Em terceiro lugar e por linha diferente, Johann Jacob Moser c.c. Friederike Rosine Vischer. Johann Jakob Moser (1701-1785) foi jurista, professor e director universitário, e escreveu cerca de 500 obras. Historiador do direito, ocasionalmente diplomata, a ele se deve a complexa arquitectura jurídica que regulou as relações dos diferentes Estados e Cidades Livres (ou Imperiais) do Sacro Império Romano-Germânico, até ocorrer a unificação sob hegemonia prussiana. Serviu o imperador da Áustria, o landgrave do Hessen e os príncipes do Württemberg tendo períodos de favor e desfavor quando as suas concepções não agradavam ao soberano, mas nunca abdicou da sua independência de espírito, chegando a estar preso 4 anos, confinado a um quarto e, inicialmente impedido de ler ou escrever. A sua vida daria origem a inúmeros artigos e referências e a mais do que uma biografia, a mais recente e exaustiva de um professor americano, Mack Walker em 1981. É considerado um dos fundadores do Direito Internacional Público.

  • Pois este Johann Jakob Moser está na BD 'nu' sem datas nem dados, e como fim de linha, apesar de ser 4º neto de varonia do incluído Valentin Moser von Filseck o que bem ilustra a "qualidade" do livreco (ou de quem fez os excertos, se porventura foi o caso).
© 2004  Guarda-Mór, Edição de Publicações Multimédia Lda.